Breves considerações sobre a Bolívia.
A Bolívia é notadamente um dos países mais pobres das Américas, e cerca de 60% da população está em estado de pobreza extrema. A cultura Tiwanaku se desenvolveu ali durante séculos, sendo envolvida pelo Império Inca por volta do século XV, que foi então destruído pelos espanhóis. Durante o período de dominação Inca, o planalto boliviano era ocupado por grupos de língua aimará, dos quais se destacam os collas. Após 16 anos de guerras, Simón Bolivar declarou a independência e instituiu um governo republicano em 1825, e em sua homenagem o local passou a se chamar República Bolívar, e depois Bolívia. Ele foi então nomeado como o primeiro presidente da República do país. Nos anos 60, movimentos guerrilheiros buscavam instaurar um governo comunista na região, e o exército boliviano capturou no campo de batalha um dos mais importantes guerrilheiros do movimento, Ernesto Che Guevara, executando-o. Desde a conquista espanhola no século XVI o país foi governado por descendentes de europeus, e em 2005, Juan Evo Morales (atual presidente), um aimará, foi eleito pela população, se tornando o primeiro presidente de origem indígena da Bolívia. Antes de sua posse oficial ele tomou posse no sítio arqueológico de Tiwanaku em um ritual aimará simbólico perante milhares de pessoas, e afirmou que “os 500 anos de colonialismo terminaram e a era da autonomia começou.” Boa parte do oeste do país está situado em meio à cordilheira dos Andes, onde vive a maior parte de sua população, descendentes dos Collas (colhas). A parte leste e não andina é formada por baixas planícies e coberta pela floresta úmida da Amazônia, e é habitada por antigos descendentes dos Cambas, que se autodenominam “brancos”, e pertencem a uma das províncias mais ricas da Bolívia, Santa Cruz. Ao sul localiza-se o Salar do Uyuni, o maior deserto de sal do mundo e ao norte suas terras são banhadas pelo Lago Titicaca, na divisa com o Peru. Durante o governo Evo os departamentos mais ricos perderam sua autonomia e iniciaram um movimento separatista identificado como Nação Camba, com o objetivo de se separar da Bolívia, mas a suspeita de seu envolvimento indireto com as Farc colombianas e de ter recebido apoio de George Bush quando este ainda era presidente dos Estados Unidos fizeram com que o movimento perdesse força. Contudo, essa polarização entre os nativos “brancos” e mais ricos das províncias desenvolvidas (Santa Cruz de La Sierra) e os “índios” e pobres das partes mais altas é visível e palpável, a diferença é gritante. Os "índios" só não são tão segregados porque são maioria, mas o preconceito existe.
No trajeto SP-Corumbá, a cidade dos meus pais ficava no caminho, e fiz uma pausa na casa deles. Depois de dois dias lá, peguei um ônibus pra Corumbá, e parecia que eu já estava na Bolívia: só tinha bolivianos no ônibus. Quando clareou, vi duas brasileiras, e perguntei se estavam indo fazer um mochilão, para dividirmos o taxi pra atravessar a fronteira, mas nem precisou: o ônibus atravessou a fronteira e nos deixou perto da polícia federal, e fomos até lá carimbar os passaportes e pegar o carimbo de entrada na Bolívia, senão não conseguiríamos entrar no Peru. Sequer pediram pra ver o comprovante de vacinação contra a febre amarela. Perto da aduana fiz um câmbio e troquei alguns reais por bolivianos pra pagar o taxi e o bilhete do Trem da Morte, e pegamos um taxi pra estação onde tinha marcado de encontrar os mineiros que fiz contato pelo mochileiros.com. Fiquei cuidando das mochilas enquanto eles foram carimbar os passaportes na aduana, porque nenhum deles tinha carimbado, tinham passado direto.
Fronteira Brasil-Bolívia:
A estação do Trem da Morte, em Puerto Quijarro. O purgatório?
Guardando as mochilas (ou não):
Se não der o sinal o trem não pára:
Tem uma mochila com pernas ali!! Ah, sou eu.
O Trem da Morte
“O famoso Trem da Morte é o trem que liga Quijarro a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Construída na década de 1950 este trecho da ferrovia tem mais de 600 km de extensão. O trem leva cargas e passageiros, e é operado por uma empresa norte-americana. Há quem diga que o apelido Trem da Morte já nasceu com a própria ferrovia onde milhares de trabalhadores teriam morrido durante a construção por causa da malária. Outra teoria conta que há algumas décadas a Bolívia sofreu uma grande epidemia de febre amarela e o trem foi utilizado para o transporte de mortos e doentes. E tem também a versão de que nas décadas de 1970/80 a Bolívia passava por uma situação econômica difícil (passava? Pra mim ainda passa) e o trem por ser um transporte popular estava sujeito a todo tipo de brigas, furtos e assaltos. Eventualmente também algum vagão de carga descarrilhava durante o percurso. Além disso, muitos bolivianos viajavam em cima dos vagões por não terem dinheiro para comprar a passagem, um ou outro caía durante o trajeto e logicamente morria. É bem provável que todas essas versões tenham um fundo de verdade e dessa série de acontecimentos contados de boca em boca e aumentadas por aqueles que faziam a viagem através da Bolívia tenha originado o apelido de Trem da Morte. Nos anos 90 passou a ser conhecido também como "Trem do Pó" porque foi utilizado pelos traficantes que levavam a cocaína produzida na Bolívia até a fronteira com o Brasil e depois para a Europa. Existem várias categorias e preços de assentos a escolher na hora de comprar o seu bilhete. Sugerimos veementemente que você opte em viajar, no mínimo, pela categoria Super Pullman. Apesar de ser um pouco mais cara, ela oferece um pouco de conforto e segurança. Não viaje nas categorias mais simples, pois elas não oferecem segurança e você não conseguirá descansar adequadamente, pois a todo o momento entram vendedores nos vagões do trem oferecendo tudo quanto é tipo de produto." Fonte: http://machupicchu.com.br/tudosobre/tm/tm.html
A placa com as categorias do trem e os preços:
O trem da morte saiu às quatro, e apesar de estarmos na categoria Supper Pullman, a cada parada nas estações pelo caminho, um monte de gente gritava pelas janelas vendendo coisas de comer, só não entravam no trem. No trajeto servem um jantar (pago) e você pode comer no seu assento ou no vagão restaurante. Não, não é como no Expresso do Oriente, aquele antigo trem de luxo europeu que tem restaurantes de alto nível. É apenas um vagão com algumas mesinhas. E não vi muita diferença do prato que vendiam pelas janelas por um terço do valor. Mas não é ruim, é um prato de macarrão com frango que provavelmente vem pronto e eles só esquentam. De manhã também serviram um “chafé”, um café aguado pra caramba, e depois eu descobri porque era tão aguado (conto mais adiante).
As infindáveis horas no Trem da Morte foram um dos momentos mais divertidos da viagem. Quase ninguém dormiu muito, só umas poucas horas. Arrumamos um fumódromo para os fumantes: a área entre os vagões onde ficavam os banheiros. Emocionante rs. E aquele se tornou o ponto de encontro, ficamos horas lá batendo papo, contando piadas e nos conhecendo, já que boa parte do pessoal de Minas já era amigo, mas havia várias pessoas que ainda não se conheciam direito.Eu era a paulista, tinha o “Rio Preto”, os mineiros, outros paulistas, as “Mato Grosso” e alguns gringos.
O Trem da Morte. Tem um fantasma ali no canto?
Em uma das paradinhas durante a noite (se não subir rapidinho de volta fica na linha do trem):
O macarrão com frango, arroz e batatas fritas do jantar (se a foto tivesse sido tirada com o Instagram teria ficado mais bonita rs. Sorry rs):
Nossa salinha de descompressão ("fumódromo"):
Tem até filminho, pô!Assim dá pra ir até a China.
A caminho...
O nascer do sol no Trem da Morte:
E finalmente em Santa Cruz de la Sierra, depois de quase 17 horas...
Gentileza gera gentileza:
Santa Cruz de la Sierra
Depois de quase 17h de viagem, chegamos em Santa Cruz, compramos as passagens pra La Paz, deixamos as mochilas num guarda volumes e saímos pra conhecer a cidade. Santa Cruz, pertencente ao distrito mais rico, é a maior e mais populosa cidade da Bolívia, maior até que La Paz, e é considerada o motor econômico do país, apesar de não ser a capital. É muito comum encontrar brasileiros que saem do Brasil para morar e estudar Medicina ou Engenharia por lá, por causa do baixo custo em relação ao preço do Real. Conheci alguns desses estudantes na volta. Também é comum muambeiros irem até lá fazer compras de eletrônicos e outras coisas para venderem no Brasil, pois os preços são baixos para nós. Mas para os bolivianos é a cidade mais cara do país.
Um trânsito maluco, os carros buzinavam constantemente, uma frota de carros muito velhos e a todo momento gente querendo vender algo. Nós brasileiros achamos que somos fisicamente diferentes devido á miscigenação, mas pra eles brasileiro “tem cara de brasileiro”, e eles sabem que você não é de lá. Então se você não quiser comprar nada, às vezes te pedem dinheiro na cara dura. (isso me lembra algum lugar... ops, o centro de Sp rs).
Fomos na praça central, visitei uma igreja católica pela primeira vez e vi uma cena que veria várias vezes: manifestações. De repente a praça começou a encher de gente, juntar pessoas, câmeras de Tv e eu estava no meio de uma manifestação, com pessoas gritando e erguendo cartazes. Nem sabia o que estavam dizendo, mas comecei a repetir o que eles gritavam só pra dar um apoio moral rs. Perto dali, uma tropa de guardas se armou em frente a um prédio, e como turista é bobão, fui até lá tirar foto na frente deles. Alheios a toda bagunça, alguns estudantes desenhavam, tranquilamente, como se nada estivesse acontecendo (eles já estão acostumados com manifestações, todo dia tem uma em algum lugar).
Na hora de almoçar, me servi num bufê e sem que eu pedisse me trouxeram uma sopa, que é servida como entrada em quase todas as refeições. Um caldo ralinho, ervilhas, batatas e uma carne meio dura: lhama! Mas só descobri isso depois.
Momento histórico: a primeira vez que a Tati entrou numa igreja católica. Tenho pecados de uma vida inteira pra confessar, eu sei.
Santa Cruz de la Sierra vista do alto da torre. Joga as tranças, Rapunzel!
Vandalismo: aqui também? Onde é que toca esse sino?
Um monumento da praça da igreja matriz:
A sopinha suspeita com carne de lhama. Me acostumei tanto com ela que depois eu até pedia.
A manifestação que começou de repente:
Os desenhistas, nem ligando pra bagunça toda:
A Guarda Municipal protegendo a entrada do prédio. Pede pra sair!
Eu e Bruno, os turistas bobões:
Andando pela cidade, uma figura que é onipresente na Bolívia: as chollas (ou cholitas). São chamadas assim devido à descendência dos povos collas, a etnia mais pobre do país. São as mulheres que usam os trajes típicos com saias compridas e rodadas, duas tranças, o saco colorido nas costas que geralmente carrega uma criança e o chapéu coco. O escritor Eduardo Galeano, no livro “As veias abertas da América Latina” descreve as origens de seus trajes típicos:
" (…) a atual vestimenta indígena foi imposta por Carlos II em fins do século XVIII. Os trajes femininos que os espanhóis obrigaram as índias a usarem eram calcados nos vestidos regionais das camponesas espanholas de Extremadura, de Andaluzia e do país basco, e o mesmo ocorre com os penteados das indígenas repartidos ao meio, impostos pelo vice-rei Toledo(...)"
Então, durante a dominação espanhola, os espanhóis impuseram ao povo boliviano sua cultura e trajes típicos de regiões da Espanha, não é algo da cultura Inca. Para saber a opinião delas sobre as roupas, perguntei a uma delas porque se vestiam assim, e ela me respondeu “porque és uma tradición en Bolívia”. Alguns de seus dentes são de ouro, e a maioria tem uma aparência cansada, envelhecida, brutal, apesar de quase sempre ter uma criança pequena nas costas. Em Copacabana, numa loja, perguntei a uma delas quantos anos tinha, e ela, depois de muito rir e aparentar estar envergonhada, me disse: “catorze anos” (!). Ela tinha catorze anos, mas a aparência de quase trinta! E não é pra menos: a maioria vive em dificuldades financeiras e trabalha no comércio informal, é muito pobre e tem muitos filhos logo na adolescência. Vendem roupas, sapatos, comida, frutas e tudo que você possa imaginar, e constantemente nos abordavam na tentativa de vender algo. Quando não vendiam, pediam dinheiro, sem o menor pudor. Pelo que pesquisei, é cultural na Bolívia essas mulheres trabalharem mais que os homens. E trabalhar pesado, enquanto seus esposos estão num serviço mais leve, ou em casa cuidando das crianças, ou nos bares bebendo. E isso é tão forte culturalmente, que elas acham normal que seja assim, elas começam a trabalhar quase na madrugada e não tem hora para terminar, e ao chegar em casa, todo o serviço do lar lhes espera. E por isso vemos muito claramente as marcas de uma vida dura e sem conforto algum estampadas em seus rostos. Em El Alto, perto de La Paz, acontece o Chola Wrestling (não fui até lá), uma luta livre de cholas. Deve ser intrigante ver uma luta livre dessas mulheres, mas ao mesmo tempo triste vê-las se atracando num ringue em troca de alguns trocados. Para conseguir uma foto, é preciso tirar disfarçadamente, ou ela vai querer que você pague pelas fotos. Às vezes se escondem das máquinas fotográficas dos turistas e ficam bravas, falam palavrões, mas é inevitável que sejam alvo de nossa curiosidade no começo. Depois de um tempo a gente acostuma, pois elas estão por todos os lados.
*Detalhe para a saia mais curta que deixa a canela de fora: elas são mais usadas em Santa Cruz, que é a cidade mais cosmopolita da Bolívia. Nas cidades do interior e mesmo em La Paz as saias vão até os pés, e quando não vão as canelas ficam protegidas com meias escuras. A saia mais curta também indica que a cholita ainda é jovem, ou seja, pode "ousar" mais (seria uma periguete rs?).
Fotos da internet: a luta das cholas (Anderson Silva ficaria com inveja)
Os cheiros: sempre me lembro do cheiro de um lugar. E dois cheiros que ficaram na minha memória foram o cheiro do frango frito e o cheiro do xixi. Alguns lugares cheiravam a xixi e a frango frito no óleo queimado. Como carne de vaca aqui é muito cara, o habitual é o frango, em quase todos os lugares o prato principal é frango. Uma vez assisti no Globo Repórter que as cholitas fazem xixi em qualquer lugar, apenas se abaixam e fazem porque com a saiona nem dá pra ver. Não sei se isso é verdade e não vi nenhuma delas em “atitude suspeita”, mas o cheiro de xixi era marcante. Fazer xixi em estabelecimentos privados dá até multa. Uia!
Então, caro mochileiro, não faça xixi na rua nem em lugares privados! Coisa feia!
Depois do almoço, fomos à uma região que é cheia de lojas pra ver o que tinha por lá. Você encontra de tudo, desde importados até produtos chineses, roupas, calçados, óculos, eletrônicos, etc, tudo MUITO barato. Quem tem uma grana pra gastar, vale a pena levar.
Na volta, fui fazer o que eu tinha me disposto a fazer: PLANTAR UMA ÁRVORE!. Queria plantar uma em cada cidade que eu passasse, mas só consegui plantar em Santa Cruz, nas outras cidades não tive tempo nem consegui as sementes. Além disso, nem sempre as sementes vingam, teria que levar a muda, e na mochila isso seria meio impossível, mas na próxima vez que eu viajar darei um jeito, já até pensei em como fazer isso. Alguns meninos que estavam comigo me ajudaram a plantar, entramos num bar, tomamos umas Paceñas (cerveja boliviana) e bora pro Terminal pegar o ônibus pra La Paz.
"O meu pé de laranja lima" em Santa Cruz de la Sierra:
No Terminal de ônibus começou minha epopéia do banho: a última vez que eu tinha tomado um banho tinha sido na casa do meu pai. Eu queria MUITO tomar um banho, pra poder trocar as meias, tirar a bota (minha companheira a viagem inteira) e tentar descansar um pouco no caminho pra La Paz, pois seriam mais 18h de estrada, e eu estava sem dormir direito há dois dias. Apesar dos conselhos contrários a isso e dos avisos pra se virar no lencinho umedecido, fui em busca do tal banho. Cheguei no Terminal quase quatro da tarde, e o ônibus pra La Paz saía às 5h. Eu sempre soube que banheiro de rodoviária não é lá muito agradável, e no Brasil não é muito diferente, mas não estava preparada para aquilo. Paguei o banho e quando entrei no banheiro me arrependi até o último fio de cabelo, cheguei a me arrepiar: ralos abertos, cheiro de esgoto, chão sujo há um ano (tenho certeza disso rs), paredes enlodadas que eram quase algas marinhas. Aí pensei: “já era, quem sai na chuva é pra se molhar”. A temperatura tinha caído e o vento é muito forte em Santa Cruz, então tinha esfriado pacas. Olhei pro chuveiro: só tinha o cano, o banho era frio. Não tinha lugar pra colocar a mochila nem a toalha ou as roupas, e não dava pra colocar ela no chão sujo e depois botar nas costas. Deixei a porta meio aberta e pendurei a alça da mochila na porta, coloquei os chinelos e entrei no chuveiro gelado. Demorei um pouco pra me vestir, porque até achar as coisas na mochila, tirar pra fora sem ter onde apoiar as coisas, guardar a toalha, ensacar o chinelo, apertar pra caber tudo de novo, etc, levou um tempinho.
Quando saí de lá já eram cinco da tarde. Peguei a passagem e fui procurar de onde saía o ônibus, não estava escrito na passagem qual era a plataforma, e nem tinha plataforma numerada na rodoviária. Fui passar, a mulher devolveu minha passagem e disse “no, no”. Pensei “caramba, não, o que? Não deve ser aqui”. Fui pra outra saída, dei a passagem de novo, e outra vez “no, no”. Aí lembrei que tinha que pagar uma tal de taxa de embarque, fui perguntar pra alguém onde era e não entendia patavinas do que eles falavam. Foi aí que percebi que português NÃO é parecido com o Espanhol, principalmente quando você está atrasado e desesperado com medo de perder o ônibus. Fiquei que nem uma tonta procurando de um lado pro outro e correndo com quase vinte quilos nas costas, 15kg atrás e 4,5kg na frente. Eu perguntava, me explicavam e eu não entendia, ou ninguém entendia o que eu estava perguntando. Achei o lugar, tinha uma fila do c..., levei quase quinze minutos na fila. Paguei e fui correndo pra saída de ônibus, cadê o ônibus? E já tinha passado das cinco fazia tempo. Não achava onde estava porque não tinha número de plataforma na passagem, ou sequer plataforma numerada. Fiquei mais um tempão procurando, andando que nem barata tonta, e um dos motoristas que estavam saindo viu meu desespero e me chamou pela janela do ônibus, pegou minha passagem e olhou o nome da empresa. Aí ele apontou qual ônibus era, estava totalmente fora do lugar que saíam os outros ônibus, eu não ia encontrar nunca. Corri pra lá, entreguei a passagem pro motorista e subi, e todo mundo, “Aeeee, apareceu!” No bus encontrei duas brasileiras que também tinham pegado o trem da morte com a gente, mas não estavam no nosso grupo, e me disseram que tinham alugado um quarto num hotelzinho por algumas horas só, pra deixar as mochilas e depois poderem tomar banho. Pensei: “Caramba, ótima ideia, porque não pensei nisso? Agora já foi”. Encontramos essas garotas em quase todos os lugares que passamos, em La Paz, em Copacabana, em Cuzco. E não só elas, também outros grupos de mochileiros que eu acabei encontrando na volta de novo.
No percurso pra La Paz, o ônibus era ótimo, de dois andares, super confortável, bus cama. Fizemos uma parada para o jantar. Achei que seria como no Brasil que o ônibus faz parada de cinco em cinco horas e a gente encontra restaurantes, banheiros gratuitos e opções de comida ou outras porcarias. Nada disso, só paramos essa vez. O ônibus parou em frente de umas casas, e vários nativos ofereciam os banheiros de suas casas para os passageiros enquanto saíamos do ônibus. Pra cobrar, claro. Gritavam na porta do ônibus como se fosse numa feira: “Baño, baño, acá, acá”. Do outro lado da rua tinha o restaurante: um espaço coberto, algumas mesas, inúmeras cholitas sentadas tomando aquela sopa com carne de lhama e uns caldeirões cheios da tal sopa com outras cholitas controlando os caldeirões (bruxaria?). Foi uma visão que eu nunca vou esquecer, pensei e depois a Marcinha (gente boa demais) me disse a mesma coisa que eu tinha pensado: “É, agora acho que estamos na Bolívia mesmo”.
Percebi que eles são muito patriotas, como o país é muito pobre e as pessoas não têm muitas condições de trabalho, os próprios motoristas facilitam para que essas pessoas ofereçam seus serviços aos viajantes. Eu achei isso louvável e muito legal, até a hora que me acordaram no meio da madrugada querendo me vender algo (se tem algo qure me irrita é ser acordada). A qualquer parada na estrada pra pegar mais gente subiam também pessoas vendendo coisas pra comer. Várias vezes fui despertada com alguém puxando meu braço e me oferecendo pão de queijo, salteña (um pastel assado típico de lá), bolachas, pollo. Acordei durante a noite com uma puta chuva e fiquei observando o caminho, o motorista fazia cada loucura que me deixava de cabelo em pé: ultrapassava na curva, acelerava com a chuva fortíssima, passava rente a outros ônibus no sentido contrário, etc. Altas emoções, os motoristas da viagem eram sempre um show à parte. Estava tão tensa que só consegui dormir de novo quando a chuva passou, e acordei com o dia já amanhecendo em La Paz.
Ao chegarmos em La Paz, a primeira visão impressiona: La Paz fica num vale cercado de montanhas, e algumas dessas montanhas também são povoadas por casas. Não sei porque, talvez pela pobreza mas é uma cidade sem reboco, cerca de 95% das casas não têm reboco, estão todas no tijolo (adobe). Então à primeira vista, parece um imenso favelão, com os morros cobertos de casas de tijolo avermelhado e várias montanhas com os picos cobertos de neve ao fundo. E foi aí que observei os primeiros efeitos da altitude, pois até então, em Puerto Quijarro e Santa Cruz, estávamos quase na mesma altitude que o Brasil, mas depois a estrada foi subindo pelos Andes. Um saco de salgadinho estava completamente estufado, quase estourando por causa da diferença de altitude e de pressão. Inédito pra mim. Se você for pra lá de avião, vai ver que ao invés de descer para pousar, a aeronave vai subir ainda mais. Incrível. Fisicamente, no primeiro dia, não senti nada, mas depois comecei a sentir o ar seco e dificuldade pra respirar, pois além da altitude ainda fumo, então a falta de oxigenação foi pesando.
Não dá vontade de estourar?
La Paz
Chegando na rodoviária de La Paz, novamente pegamos vários taxi´s até o centro, e de lá caminhamos até o hostel. Ao descer do táxi, andando pelas ruas de La Paz procurando o hostel, mais uma vez a tal passeata, pessoas com cartazes, trânsito, motos e a “tropa de choque” (não sei se lá é assim que se chama) fazendo uma barricada. Me senti num país revolucionário.
Um dos rapazes que estavam conosco, o Wesley (gente fina demais, viajei com ele de novo em Setembro pela agência de turismo dele, a Curupira Turismo), já havia feito esse mesmo roteiro dois anos antes, e conhecia um hostel onde havia se hospedado. Fomos até lá e ele falou com o recepcionista que havia se hospedado um tempo atrás, que estávamos num grupo grande, blábláblá, e o tiozinho da recepção fez um desconto pra gente. Mas mesmo sem o desconto, o custo não é alto. A diária saiu por 30 bol´s, cerca de R$10,00. Barato demais!
Quartos definidos, a primeira e urgentíssima providência a “tomar” era um banho. Eu já tinha passado pela “saga do banho” em Santa Cruz, então deixei as meninas tomarem primeiro e tomei depois. Como estávamos em três garotas, quase sempre fechávamos um quarto para nós três e assim ficávamos mais à vontade.
Depois do banho, todo mundo foi comer ali perto do hostel num restaurante tipo fast food com nome de Pollo alguma coisa. O frango estava bom, mas depois de um tempo, de tanto sentir cheiro de frango pela cidade, foi enjoando. Detalhe: os refrigerantes sempre são quentes (temperatura ambiente, na verdade), até Danones não ficavam em geladeiras, só a cerveja. Talvez por ser uma cidade fria, não sei. E coisa rara de se ver era geladeiras, nem nos restaurantes tinha, e às vezes até a cerveja era quente.
Naquele primeiro dia, decidimos conhecer La Paz e ir atrás de agências para pescar informações sobre os passeios, e a galera que havia levado pouca roupa de frio aproveitou pra comprar artigos de necessidade (eu levei várias blusas, não queria gastar com nada desnecessário, minha mochila era a mais pesada). La Paz é uma cidade que vale a pena ficar alguns dias, porque tem MUITAS opções de coisas pra se fazer, seja passeios, compras ou diversão.
Conhecendo o centro velho da cidade, passamos por uma rua cheia de agências de turismo, outra cheia de lojas de souvenirs, e pelo mercado das bruxas, além de conhecer um pouco o centro e a igreja. Mercado das bruxas porque a rua se chama "Rua das Bruxas", e nas barraquinhas elas vendem incensos, ervas e cadáveres e fetos de Lhama pra fazer oferendas aos deuses. Acreditam que isso traz fortuna e boa sorte, e quando vão construir suas casas de adobe (os tijolos de que são feitas a maioria das casas), enterram esses cadáveres em homenagem à PACHAMAMA (a mãe terra, um dos muitos deuses incas) como oferenda para atrair coisas boas. A economia em La Paz é totalmente informal, não há supermercados (pelo menos não vi nenhum por onde passei), e tudo se compra em barraquinhas a céu aberto, desde comida até artigos de higiene, como sabonetes, papel higiênico, shampoo, etc. Eu tinha esquecido minha saboneteira no banheiro do Terminal em Santa Cruz, e fui perguntar onde havia um supermercado pra comprar outro. O senhor simplesmente apontou para as barraquinhas que tinham na rua, me indicando que era ali mesmo.
Passeios que queríamos fazer: o Downhill (a estrada da morte), uma escalada (Chacaltaya ou outro monte qualquer) e as ruínas de Tiwanaku (civilização anterior aos incas). Há opções de rafting, rapel e outras coisas também, eu detalhei no fim do post. Eu queria MUITO fazer o Downhill e Tiwanaku, mas ficou combinado que quem não quisesse fazer o Downhill por medo de altura, falta de resistência física ou outros motivos, faria a visita às ruínas. E no terceiro dia todos fariam a escalada. Então tive que optar, e acabei escolhendo o Downhill, apesar de ser professora de história e querer conhecer as ruínas históricas de lá. Mas deixei pois tentaria fazer na volta, afinal iria passar por La Paz novamente no retorno de Macchu Picchu.
O segredo do "chafé": depois de fechar os passeios (não me recordo dos valores) e fazer um city tour, voltando, parei pra tomar um café num bar que havia embaixo do hostel. Parei no balcão e pedi um café, e fiquei esperando. A simpática senhora que me atendeu preencheu a xícara com café só até a metade, e num gesto rotineiro, pegou uma chaleira com água quente e completou o resto da xícara(ahn?). Daí entendi porque o café do trem era tão aguado.
A primeira imagem de La Paz, a cidade sem reboco:
Mais uma manifestação. Será que eles também divulgam pelo face rs?
Mais uma barricada policial (dessa vez não dei uma de turista bobona, quis fazer a linha phyna):
O pollo (polho). Nesse dia tava bom, depois foi enjoando:
Os fumantes esperando a galera sair (quando é que vcs vão parar de fumar, hein?)
No centro de La Paz, Plaza Murillo:
A boliviana de sorriso sincero (as outras só sorriam quando eu comprava alguma coisa, êta povo mal humorado):
Brasucas se acabando de gastar com as coisas baratas. Espero que meus amigos que me pediram lembrancinhas que eu não comprei não leiam isso rs:
Uma das barracas do Mercado das Bruxas. Elas não gostam de fotos e xingam mesmo, observe o gesto da mão me mandando praquele lugar. Te amo também!
Os fetos de lhama para oferendas a Pachamama (uma dos muitos deuses incas). Será que se eu pedir pra ficar rica funciona?
Tá doente? Aqui tem remédio! Vanessa, você que vive reclamando de dor, te comprei um remedinho que é tiro queda. Elas me garantiram rs.
"As luzes da cidade acesas...":
Tomando o tal do "chafé" boliviano:
Monumento ao Che Guevara feito de lata.
As ruas de La Paz

A Paceña, cerveja boliviana:
Onde é que arrumo um carrinho nesse supermercado, per favore?
Sabe aquelas pipocas que vêm num saquinho cor de rosa? Aqui você realiza o sonho de infância de comprar um sacão de vinte quilos rs:
Á noite fomos até o Hard Rock Café de La Paz. Antes de ir, os meninos cozinharam uns pacotes de sopão que haviam levado do Brasil na cozinha do hostel, tomamos um pouco e saímos. Na porta do hostel encontrei uma fila quilométrica de pessoas na rua e queria saber que fila era aquela. Perguntei a uma das pessoas, e o que a mulher me respondeu foi “Para subir a la periferica”. No começo da fila, as pessoas entravam em vans, então era uma fila para pegar as vans e ir para suas casas nos morros, a “periferia”. Nada muito diferente do Brasil em horário de rush (a famosa lotação).
A noite no Hard Rock foi divertidíssima, porque foi a única vez que conseguimos sair todos juntos. Quando entramos, estava totalmente vazio e só tinha nós, e nem cobraram entrada, só o consumo. Conforme foi ficando mais tarde, foi juntando mais gente, pouquíssimos bolivianos e vários estrangeiros, europeus, israeleneses, americanos. Várias cervejas, mojitos, margaritas, tequilas, muito rock, reggae, música brasileira e uma conta de mais de 1500 bol´s depois, pessoal foi saindo e indo embora. Como no início só estávamos nós, o DJ tocou várias músicas brasileiras, e no nível alcoólico em que eu estava, nem sei o que foi que tocou quando o bar encheu de estrangeiros. Me disseram que até em cima da mesa eu subi, mas se eu não lembro eu não fiz! Nem me lembro direito como foi que cheguei no hostel, acho que foi o Eudes (mineiro gente fina demais) que me arrastou pelas ruas de La Paz.
Tomando uma sopinha no hostel antes de sair:
A noitada mais legal de todas:
Una Paceña, per favore (arrasando no Portunhol)!
Lá encontrei um irlandês que me apaixonei uma vez, mas aí ele queria casar e eu não quis. Mas ainda te amo, meu amor!
Tequilaaaaaaa!!!!
O Downhill
Todos de ressaca, acordamos de madrugada pra fazer o Downhill, a descida de bike pela Estrada da Morte. Quer dizer, não no dia seguinte, apenas umas duas horas depois.
"A Estrada da morte é também conhecida por estrada dos Yungas, e liga La Paz ao distrito de Coroico. Foi construída por prisioneiros paraguaios, e vários morreram na obra. A estreitíssima estrada ousa ser mão dupla, e é considerada a mais perigosa do mundo porque alguns de seus trechos não cabem sequer um carro e ainda assim são mão dupla (vi um carro dando ré por vários metros até encontrar um espaço pra encostar pra que o carro que estava no sentido contrário pudesse passar). O perigo de morte se dá a cada metro, a cada curva. Com desníveis que chegam a uma altura de cerca de 3600m e abismos de até 800m, um acidente mortal acontece ali a cada duas semanas, e de 200 a 350 pessoas morrem lá todos os anos em seus longos 64km. No caminho da rota há as conhecidas “Santas Cruzes” significando que alguém morreu naquele ponto” Adaptado de: http://www.arrobazona.com/as-5-estradas-mais-perigosas-do-mundo/
Na garagem da agência, o guia nos deu várias orientações, capacetes, luvas, coletes refletivos e uma calça de tactel, que eu recusei porque achei que não era necessário. Me arrependi depois, porque minhas roupas ficaram todas sujas de barro, a bicicleta jogava barro nas minhas costas (e na de todo mundo). Ainda demos sorte porque não choveu, porque outros brasileiros que encontrei na volta que moram em Santa Cruz de La Sierra pra estudar (e me convidaram pra um almocinho à pampa na casa deles) fizeram o trajeto todo debaixo de chuva e neblina.
No início do Downhill, descemos por uma rodovia asfaltada, e eu pensei “Mas é só isso? Achei que fosse mais punk”. Ledo engano, a Estrada da Morte ainda não havia começado. Chegamos num ponto alto em que se via a Cordilheira dos Andes até perder de vista, e uma série de nuvens no topo das montanhas. Estávamos acima das nuvens, era uma visão lindíssima. Na hora de fechar esse tour de bike em La Paz, havia duas opções de bike: uma equipada para o percurso e outra superequipada, com amortecedores melhores, pneus e freio mais avançados, mas que obviamente era mais cara (quase o dobro). Pelo que o rapaz da agência nos disse, era usualmente para mulheres. Nem dei bola e peguei a mais barata mesmo. Não me arrependo, mas a mais cara deve ser mais confortável, porque mesmo sendo um percurso de descida, na estrada de pedra a bike trepida muito e o corpo todo dói, além do freio ser muito duro e a mão doer de tanto apertar. Por várias vezes pensei em desistir, o corpo todo doía e eu não agüentava mais apertar o freio, foi uma verdadeira prova de resistência, mas agüentei até o final. São cinco horas de descida e mais de 60km. No meio do trajeto algumas cachoeiras que caem bem em cima de onde a gente passa, a cordilheira é de uma beleza deslumbrante, o dia estava lindo e ensolarado, bem bonito mesmo. No começo o frio era congelante, mas porque era muito cedo, depois começou a esquentar e eu tirei o blusão, e mesmo assim ainda senti calor. Uma gringa que estava descendo com a gente e estava de bermudas caiu e machucou o joelho, e aí desceu o resto do percurso dentro da van (a van que nos leva segue a gente até o final, caso alguém "peça pra sair"). O certo era terem fornecido joelheiras e cotoveleiras, maaas... Então o ideal é ir de calças, protege mais, além de aceitar a calça que eles oferecem e colocá-la por cima da sua. O pneu de um dos mineiros (Danilão) furou e os guias trocaram. Havia dois guias, um que ia na frente de todos e o outro mais ou menos no meio que tirava as fotos e filmava, e a van e o motorista por último, depois de todos os ciclistas. Fizemos uma parada para um lanchinho que estava incluso no tour, uns pãezinhos com queijo, Coca Cola, água e bananas, estava gostoso, além de algumas paradinhas para fotos. No final, depois de 5 horas de descida pela Cordilheira dos Andes e 60 km, paramos num boteco que tinha por lá para tirar os equipamentos de segurança, lavar o rosto e tomar umas cervejas pra matar a sede. O almoço também era incluso, num restaurante que tinha uma piscina, super legal, e fomos até esse restaurante de van. Passamos algumas horas nesse restaurante, alguns entraram na piscina, e depois voltamos pra La Paz.
Não chegamos na cidade muito tarde, e ainda demos umas voltas pelo centro, alguns fizeram mais compras, e terminamos de acertar o passeio do dia seguinte. Nesse dia quando cheguei eu estava muito cansada, porque tinha dormido pouco na noite anterior por conta da balada e do dia cansativo. Deixei minhas roupas e mais algumas num saco para o hostel mandar para a lavanderia e fui dormir. Claro que tem gente que sempre tem pique, e os paulistas e mais alguns ainda saíram de novo. Na verdade, eles saíram quase todos os dias a noite, tem que ter espírito.
Só as caras de ressaca:
O ponto de partida:
O trecho pela rodovia, antes de começar:
Acima das nuvens, coisa linda de se ver fora da janela de um avião. Quero voar!
Se ir reto, já era.
Em memória daqueles que já morreram por ali (havia várias dessas ao longo de toda a estrada)
Os sobreviventes!!
O Vale do Condor
Já havia sido decidido que subiríamos algum monte nevado, a dúvida era qual deles, pois há vários. O mais conhecido é o Chacaltaya, que é uma subida feita de carro e depois um trajeto curto até o topo, mas nele não tem mais neve como antigamente. Brasileiros queriam neve! Fomos pro Monte Áustria, com mais neve e bem mais alto, e a subida é feita toda a pé. Esse Monte fica no Vale do Condor.
Entre ida e volta, seis horas de trajeto, 19 km de subida durante cinco horas e quase 5000m de altitude. No percurso, a típica paisagem seca boliviana, lindas lhamas ariscas que fugiam quando chegávamos perto pra tirar fotos, cachoeiras e córregos congelados, um frio de lascar que se parássemos de andar congelava o suor, o sol brilhando lindamente que me deixou com a marca do óculos e a vista magnífica dos montes nevados que tentávamos alcançar. Digo que tentávamos porque eu não consegui completar o percurso. Nos outros dias eu não havia sentido os efeitos da altitude em nenhum momento, mas essa foi a hora. O Vale foi "com dor" mesmo. Antes de sair do hostel tomamos um chá de coca pra ajudar na subida e nos efeitos da altitude, mas no meu caso acho que não funcionou muito, pois foi a primeira vez que realmente senti os benditos efeitos da falta de oxigênio. Eu dava cinco passos na subida, descansava, e sentia dificuldade pra respirar. Às vezes faltava ar e eu bebia um pouco de água e molhava o nariz. Ofegante, com um pouco de dor de cabeça e andando devagar, consegui chegar até mais da metade. Na subida passamos por um acampamento de escaladores, havia algumas barracas montadas e equipamentos, e um pouco mais adiante encontramos o escalador descendo, naquelas roupas típicas e com o bastão de apoio. Era um gringo, e havia mais gringos descendo também depois dele.
Depois de almoçar (o guia que contratamos levou as marmitinhas pra gente, arroz com frango frio), ainda andei mais um pouco e desisti. Fui a primeira a desistir e estava passando muito mal, pois sou fumante, então foi bastante desgastante pra mim. De lá de cima da montanha, bem ao longe, dava pra ver a casinha que ficava no ponto que começamos e a van estacionada. Resolvi descer e me guiar pela vista, iria ao encontro do ponto de partida. Desistiram da subida comigo mais quatro dos meninos, a coisa estava bem punk mesmo. Achei bom, pois não desceria sozinha. Pra escalar em ar rarefeito é preciso MUITO preparo físico e experiência, coisa que eu não tenho. Voltamos pelo mesmo caminho que subimos, e quando eu olhava de lá de cima, eu via alguém sentado no chão encostado na van e não sabia quem era. Não dava pra ver de longe, mas achei que não era ninguém do grupo, pois não dava tempo de alguém ter descido depois da gente, passado por nós e chegado antes. Ops, engano, era o Bruno. Ele havia subido mais um pouco e desistido também antes do topo, e voltou por outro ponto em linha reta e de descida bem íngreme, então chegou na nossa frente. O frio lá embaixo era congelante, acho que nunca senti tanto frio na minha vida. O vento era forte e o sangue e o suor haviam esfriado, o que triplicava a sensação de frio. Depois de um tempo a galera que havia subido mais que a gente desceu e voltamos pra La Paz.
No ponto de partida:
Relógio do Eudes marcando 4300m de altitude (só isso?):
Sorriso dourado de uma nativa local:
Será a moto do Che Guevara? Se vc não assistiu Diários de Motocicleta, assista! Vale a pena, e mostra muita coisa da realidade da Bolívia.
O objetivo era chegar no Monte Áustria, o monte da esquerda. Os outros eram muito íngremes e precisavam de equipamento de escalada e experiência, além de MUITO condicionamento físico:
Eu e Murilo, o anjo mineiro:
Uma cachoeira congelada. Só porque eu queria entrar:
Já bem perto das montanhas:
E de repente essa maravilhosa surpresa: Laguna Negra, que na verdade é azul.
A visão que valeu a viagem inteira. Dá até pra mentir e dizer que eu estava na Suíça:
Fotos da câmera semiprofissional do Eudes. Na minha próxima viagem, certamente levarei uma dessas:
O escalador que encontramos voltando da montanha:
Pausa para um descanso, morrendo já por conta da baixa oxigenação (tem que ser macho pra aguentar)
E outra pausa para o almoço:
Que praia que nada, eu quero é neve!!
Um vídeo da subida no pico Áustria editado pelo Danilo:

Na volta, todos mudos de cansaço e de frio, mas com uma sensação deliciosa por ter experimentado algo novo. Valeu MUITO a experiência, já fiz rapel, mergulho, trilhas, rafting e pulei de asa delta, mas essa especificamente foi de um esforço físico tremendo. Talvez algum pico no Brasil eu experimente subir de novo, a altitude é bem inferior. Quando cheguei no hostel, fui direto tomar banho e dormir, nem saí pra comer, de tão cansada que eu estava.
Coisa chatinha: nesse dia a Marcinha nao quis fazer esse passeio e ficou dormindo no hostel. Num momento em que ela foi até o banheiro, quando voltou, o tiozinho da recepção tinha aberto a mochila dela, pegado o porta dólar, tirado o dinheiro e estava com o dinheiro dela na mão, contando (!). Ela pegou ele no flagra, foi uma coisa hiper chata e ele não soube explicar o que estava fazendo ali com o dinheiro na mão, acho que pensou que todos tinham ido no passeio. Isso poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo num hotel cinco estrelas, então tem que sempre tomar cuidado. Eu não tirei meu porta dólar da minha cintura por nada, dormia com ele e nele estavam todos os meus documentos, dinheiro, cartão, papéis da imigração e comprovante de vacinação contra a febre amarela. As notas menores e moedas deixei numa bolsinha porta celular. E todas as outras coisas de valor, como máquina fotográfica e celular ficaram na mochila menor, que estava sempre comigo, inclusive meu netbook, que eu levei pra ir descarregando as fotos. O que também não garante nada, poderiam ter roubado minha mochila, ou eu ter perdido como aconteceu com o André (ele esqueceu a mochila no banco do táxi em Cuzco). Então tem que estar SEMPRE atento.
Copacabana
"Copacabana é a principal cidade do entorno do Lago Titicaca na Bolívia, de onde saem os barcos que fazem a visita à Isla del Sol, uma ilha sagrada dos Incas.Às margens do Lago Titicaca, ela é uma cidade bastante pequena, tendo sua história, desde a época dos incas, ligada à religião e aos rituais em homenagem ao sol e à lua. O nome deriva da expressão kota kahuana do dialeto Aymara, que significa "vista do lago".O local sagrado para muitos povos do altiplano, que ostenta uma das paisagens mais bonitas do continente. Por distanciar-se apenas 9 Km da fronteira com o Peru, Copacabana é uma espécie de escala obrigatória para o viajante que estiver saindo da Bolívia em direção à cidade peruana de Puno, no outro lado do lago - ou vice-versa. Mais do que isso, é uma ótima parada para descansar, apreciar a natureza, curtir um pôr-dosol no Títicaca e ainda por cima adaptar-se à altitude, 3.810m acima do nível do mar. De quebra, para alegria dos viajantes, é uma das cidades mais baratas da Bolívia. Em Copacabana está a igreja de Nossa Senhora de Copacabana, onde se encontra uma das imagens mais cultuadas da Virgem Maria." Fonte: http://www.viagensmaneiras.com/viagens/internacional/copacabana.htm
Pela manhã, pegamos uma van pra Copacabana, a linda cidadezinha à beira do Lago Titicaca, quase na divisa entre Peru e Bolívia. Essa van fechamos com o próprio cara da agência que nos levou pro Monte Áustria. Inicialmente tivemos a impressão que ficaria mais barato do que ir de bus, mas depois que chegamos em Copacabana, fazendo as contas direitinho deu pra perceber que o valor era o mesmo. A diferença é que de ônibus seria um pouco mais confortável por conta do espaço, mas talvez demorasse um pouco mais. Não me recordo dos percursos em horas nem dos valores. No meio do caminho, é preciso descer da van (ou do bus), pegar uns barquinhos pra atravessar o Lago Titicaca, comprar um tíquete e pagar a travessia à parte. Os automóveis e ônibus seguem numa balsa. Antes de embarcar, há alguns fotógrafos que tiram fotos das pessoas ao lado das “lhamas”, que depois descobri que eram alpacas, mais baixinhas, mas como turista é bobo e não sabe a diferença, eles nem falam nada. A gente parava pra ver os bichos, passar a mão e eles tiravam a foto sem ninguém nem pedir, e depois vendiam a foto. Comprei duas, as fotos tinham ficado legais, e também porque eles devem viver disso, não há muito o que se fazer por ali para sobreviver.
Chegamos em Copacabana já havia passado da hora do almoço e estávamos com fome, então subimos a ruazinha de Copa e procuramos um restaurante. Essa subidinha foi o meu tormento, eu passava mal e não conseguia respirar toda vez que precisava subir. Pedi uma truta (peixe típico do Lago Titicaca). Enquanto eu comia, chegou um garoto com um instrumento que eu não sei direito qual era (parecia um cavaquinho) e ficou tocando bem em cima da gente, do lado da mesa. Uma cena parecida com a que a gente vê em filme americano quando eles vão pro México, chega aqueles músicos bigodudos e engraçados tocando do lado da mesa, mas era um garoto. No dia seguinte descobrimos que era que nem praga rs: ele tinha um irmão gêmeo que se vestia igualzinho, e quando um ia embora aparecia o outro tentando ganhar umas moedas também.
Em qualquer lugar do mundo o turismo movimenta a economia, por mais sem atrativo que seja o local. Então essas tentativas de arrebanhar uns trocados são comuns, e dá quem quer (ou quem pode) Só não acho legal quando vira uma coisa abusiva. Só pra se ter uma idéia, um dos mineiros do grupo, o Hugo, era loiro dos olhos azuis, um biotipo bem alemão. Tudo que ele perguntava o preço era mais caro, porque achavam que ele fosse gringo. Ele foi comprar uma água, e uma garrafa de um litro custava uns oito bol´s (uns R$ 3,00). O cara disse pra ele que custava 100 bol´s!! Até explicar que era brasileiro... No caminho pra Macchu Picchu, paramos pra almoçar e na frente tinha uma vendinha, fui até lá pra comprar cigarros. Uma gringa falando inglês comprou um box de cigarro por 50 bol´s, sendo que custava 15! Só olhei e não disse nada, os gringos não devem ter muita noção ou talvez não façam questão, mas acho isso totalmente absurdo. É sempre bom fazer as contas pra saber os valores direitinho, pra não ser passado pra trás. Numa viagem, cada centavo faz falta, eu penso. Eu levei tudo em dólares e ia trocando aos poucos pelos lugares, e procurava prestar atenção, porque já ouvi muita gente falar que foi passado pra trás na hora de fazer o câmbio e recebeu a menos. Em certo momento, na rodoviária de Puno, voltando pra La Paz depois que fomos pra Macchu Picchu, uns brasileiros fizeram o maior escândalo e saíram gritando aos quatro cantos da rodoviária que tinham recebido notas falsas ao fazer câmbio numa farmácia de lá. Então é sempre bom ficar esperto quando se trata de dinheiro, em todo lugar tem gente querendo levar vantagem.
A truta estava boa, mas essa foi minha vez de receber o prêmio boliviano: todo dia, pelo menos um do grupo era premiado com um cabelo no prato, e nesse dia eu é que fui a sortuda rs. Já tinha até virado piada devido à freqüência com que isso acontecia, ou no almoço, ou no café, ou no jantar, sempre tinha um sortudo. Os pentelhos já tinham virado rotina nas refeições, e sorte quando vinham lisos e compridos, pior é quando vinham pequenos e enrolados, de procedência duvidosa (afinal, quase todos os bolivianos têm cabelo liso rs). O jeito era tirar e comer, pois se pedisse outro prato quem garantia que não viria de novo, já que era freqüente? Algo que meu pai sempre me dizia é pra não maltratar ou reclamar da pessoa que faz a sua comida, pois quem garante que ela vai se dedicar mais depois da reclamação? Então não pedi pra trocarem nenhuma vez, podia ser pior, mas fiz questão de chamar o garçom e mostrar, para que soubessem que um cuidado a mais é sempre bom, isso não é nem um pouco agradável. E também já tinha comido quase o prato todo, então nao ia adiantar trocar, eu já estava cheia.
Depois do almoço, fomos atrás de um hostel pra ficar. Encontramos um com banheiro no quarto e saiu MUITO barato, ainda mais barato do que o de La Paz (15 bol´s, cerca de R$ 5,00 a diária numa suíte!). Quando se está num grupo grande, pechinchar e conseguir preços melhores é sempre mais fácil. A idéia era ir pra Isla Del Sol (uma ilha no meio do Lago Titicaca) e pernoitar por lá pra ver o sol nascer, mas o preço era quase cinco vezes maior, então não valia muito a pena, pois não havia muito o que se fazer nem muitas opções de lugares pra comer por lá. Então nos hospedamos em Copacabana mesmo, iríamos pra Isla no dia seguinte de barco e passaríamos o dia lá, indo de Copa pra Puno à noite.
No primeiro dia fomos conhecer a ilha, a Igreja de Nossa Sra de Copacabana e fazer compras, havia MUITA coisa linda e hiper barata. Ponchos, toucas, vestidos, blusas, souvenirs, camisetas legais com frases engraçadas sobre a Bolívia ou o Peru. Gosto de colecionar lembranças de viagem, e as coisas mais legais que comprei foi em Copa. A Igreja de Nossa Sra de Copacabana é lindíssima, gigantesca e famosa, por dentro é toda dourada, nunca tinha visto nada igual (mas também nunca havia entrado numa igreja católica, a primeira vez foi em Santa Cruz). Entrei na igreja junto com o Murilo e um cara disse pra subirmos, não entendi o porquê. Não entendia quase nada do que eles diziam em Espanhol mesmo, então nem perguntei. Lá em cima havia um cara cantando e tocando lindamente uma viola, enquanto as pessoas faziam fila pra receber a hóstia (acho que era isso). Não participei, mas achei uma cerimônia muito bonita. Como Nossa Sra. de Copacabana é a padroeira da Bolívia, essa igreja é o principal destino dos peregrinos do país.
Copacabana é uma graça de cidade, e LOTADA de mochileiros, só se vê gente de mochilão e saco de dormir acoplado na mochila andando pelas ruas. Há também algumas ruínas históricas da antiga civilização inca e um mirante de onde se vê toda a cidade e um por do sol incrível. Não fui lá no mirante porque desde o Pico Áustria eu estava passando muito mal por conta da altitude e do ar seco, então estava fugindo de ladeiras como o diabo da cruz. Mas algumas pessoas foram e eu vi as fotos, realmente muito lindo. Quando voltei da Isla del Sol, passei a tardinha sentada num dos restaurantes da beira da praia esperando o por do sol no Lago Titicaca. Pedi um burrito (comida mexicana, mas confesso que os que eu já comi no Brasil dão de dez a zero naquele) e uma Paceña (cerveja boliviana), e fiquei ali curtindo a brisa fria, o sol faiscante que refletia na água e o azul do lago. E depois de algumas horas o sol desceu e se pôs, e eu vi o por do sol mais lindo que eu já tinha visto na minha vida. Como no Brasil o sol se põe no oeste (no continente), eu nunca havia visto um por do sol com o reflexo na água, e pra mim foi sem dúvida inesquecível!
Havia alguns barzinhos na rua principal e várias pessoas entregavam folders do que estaria rolando na noite. Alguns do grupo foram, eu não quis ir, queria economizar pra sair algumas vezes em Cuzco e também porque estava cansada e me sentindo mal e ofegante. Até acordei durante a noite sem conseguir respirar, bastante desconfortável.
Os nativos devem ter uma imagem peculiar dos viajantes brasileiros (e de outros também). Constantemente, nas ruas de Copacabana, as pessoas perguntavam “brasileños?” Quando dizíamos que sim, eles ofereciam drogas na maior normalidade, maconha, haxixe, cocaína. E isso se repetiu várias vezes em Cuzco e uma vez em La Paz, então brasileiro deve ter o hábito de comprar essas coisas por lá. No barco, voltando da Isla Del Sol, ficamos na ponta do barco, e na nossa frete tinha um casal de gringos. Um dos mineiros que estava comigo estava fumando um cigarro de palha, coisa comum em Minas, e o gringo achando que fosse outra coisa, veio nos pedir um pouco, pois segundo ele “estava muito caro lá em Copacabana”, e o estoque dele tinha acabado rs. Tive que explicar pra ele que não era o que ele estava pensando que fosse, mas e pra lembrar como é que se diz “palha” em inglês rs?
A caminho de Copacabana, a primeira vista do Lago Titicaca:
Marcinha e Wiliane: porque com elas a viagem é MUITO mais legal!
E comigo o quarto é mais bagunçado rs.
A "lhama" boazinha que não cuspia:
Os barquinhos que fazem o transporte para o outro lado do lago (quase um iate):
A orla de Copacabana:
A linda ladeira infernal.
A vista do mirante (foto do Eudes):
O prato da sorte:
O prato da sorte (2): encontre o cabelo.
A principal riqueza gastronômica de Copacabana é, sem dúvida, a truta, o tradicional peixe do Lago Titicaca. Preparado de diversas maneiras, mas sempre saboroso, pode ser encontrado a preços razoáveis, normalmente em torno de 15 Bols em quase todos os restaurantes da cidade.
O músico chatinho (que vinha em dose dupla):
"Copacabana foi um local de sacrifícios humanos em honra da deusa-mãe Pachamama, do deus sol e da deusa lua considerados marido e mulher pelos incas. Antes da chegada dos padres espanhóis, na metade do século 16, com o cristianismo na bagagem, os incas dividiram os habitantes da região em dois grupos. Os que aceitaram a dominação, passando a acreditar na religião inca, foram designados para funções mais importantes e conseguiram cargos de maior poder. Os rebeldes, por sua vez, foram transformados em escravos. Assim os espanhóis tentaram converter as populações indígenas ao catolicismo. No momento em que os europeus conseguiram impôr sua cultura, por volta de 1570, os indígenas, já tinham adotado parcialmente a nova religião. Em pouco tempo, seguindo a tradição cristã, La Santisima Virgen de Candelaria já era considerada a santa padroeira da cidade, estabelecendo inclusive uma congregação. A partir de 1582, uma série de acontecimentos foi aumentando a importância da Virgem para Copacabana, em especial devido a Francisco Yupanqui, um descendente inca que não descansou até conseguir esculpir uma imagem da santa e colocá-la sobre um altar na cidade. Em 1605, uma catedral começou a ser construída para abrigar a estátua, e o altar foi concluído em 1614. Apenas em 1805 a catedral estaria pronta. Devido a inúmeros relatos de milagres atribuídos à imagem, a Santísima Virgen de Ia Candelaria acabou sendo oficializada como santa padroeira da Bolívia pelo Vaticano em 1925" Fonte: http://www.viagensmaneiras.com/viagens/internacional/copacabana.htm
Igreja de Nossa Sra de Copacabana, a mais famosa e visitada da Bolívia.

No século XIX uma réplica da imagem da Virgem Maria foi feita e levada ao Rio de Janeiro no Brasil, onde foi criada uma pequena igreja para a Nossa Senhora de Copacapana, construída por comerciantes espanhóis. A igreja foi crescendo, e acabou dando o nome ao bairro de Copacabana no Rio de Janeiro.
E o por do sol mais lindo de todos!! Inesquecível!
A Isla del Sol
"A Ilha do Sol exerce grande fascínio nos viajantes e também nos bolivianos. Distante de Copacabana entre uma e duas horas, de barco, a ilha é cercada pelas águas azuladas do Titicaca e emoldurada pelas montanhas dos Andes. 0 pequeno pedaço de terra conta com um relevo de subidas e descidas formado por trilhas de pedras, onde os nativos e os turistas circulam e gramas verdejantes servem de pasto para algumas lhamas. Para os habitantes do local, existe uma outra grande atração: teria sido nesta ilhota que nasceram Manco Capac e Mama Ocilo, que viriam a ser os primeiros incas. Diz a lenda que o sol, vendo que os homens viviam como animais, sentira piedade deles, enviando-lhes, assim, um de seus filhos e uma filha para que lhes dessem o conhecimento das leis e que pudessem, com isso, viver como homens racionais, prosperando e gozando os frutos da terra." Fonte: http://www.viagensmaneiras.com/viagens/internacional/copacabana.htm
A Isla é uma graça de lugar, com algumas ruínas históricas também e até um pequeno museu (que estava fechado e não dava pra entrar, mas fiquei azeda pra conhecer). As ruínas do antigo império Inca estão espalhadas por toda a América do Sul. Na hora que saímos do barco, tinha uma mulher entregando uns bilhetes e pegando dinheiro, e falando algumas coisas em espanhol que eu não entendi, e também nem dei atenção. Fui andando pra ilha tranquilamente, e mais um monte de gente também. Depois eu vi um pessoal comentando que a mulher estava meio que vendendo a entrada pra ilha, olha isso. E os mais desavisados vão lá e pagam, eu vi uns gringos pagando e pegando o bilhete. Sei que devem viver disso, porque é um lugar isolado, pobre e blábláblá (o discurso de sempre). Então, se você tem dinheiro sobrando e quer ajudar, ajude, mas NÃO precisa pagar pra entrar na ilha.
Mais um gesto de mercenarismo: tem uma trilha pra subir e atravessar a ilha, e o barco pega as pessoas do outro lado na hora de ir embora. Essa trilha sobe a montanha e passa por algumas ruínas. Mas logo na subida alguns nativos simplesmente não deixam você passar sem pagar o tal “pedágio”. Galera desistiu e nem fez a trilha, voltou pra prainha.
A caminho da Isla:
Eu e o Ursinho Pimpão:
A fim de aproveitar a região montanhosa por onde se estende todo o antigo império, os Incas desenvolveram sua agricultura em degraus, para facilitar a irrigação. Observe os degraus esculpidos na montanha.
Relaxando na Isla del Sol (e os chicos atacando a Wili)
Os gringos que vieram pedir o negocinho sinistro:
"Já que pra ser homem tem que ter a grandeza de um menino"
Eudes e André caçando pedras:
E deixaram uma lembrança na Isla del Sol:
A arte de fazer...
E a arte de ensinar...
E pra fechar a postagem sobre a Bolívia, mais uma foto nossa na Isla del Sol, a mais irada tirada naquele país:
No dia seguinte, pegamos as mochilas e nos mandamos para o Peru!
Pequeno susto: fizemos um pacote por uma agência que nos levaria até Puno. Conheceríamos as Ilhas Flutuantes à tarde, e à noite iríamos pra Cuzco, assim não teríamos que gastar com hospedagem, já que lá não tinha muito o que se fazer além das ilhas. Algumas pessoas pagaram o pacote um dia antes, e no dia seguinte, quando fomos até a agência, a mulher não tinha aberto. Depois do almoço ela apareceu, acho que alguém foi buscá-la em casa. Já estávamos achando que ela tinha sumido com a grana dos que haviam pagado.
Como chegar na Bolívia:
De avião: Tam e Gol fazem vôos diários para Santa Cruz de la Sierra e La Paz. Tem as companhias aéreas bolivianas também, mas depois da experiência que tive com a falência da Aero Sur, eu nao indico nenhuma.
O que fazer em La Paz:
Visitar o Museu Nacional de Arqueologia, o Cotapata National Park, o Museu da Coca, subir o Muela del Diablo, o Chacaltaya, o Huayna Potosi, o Illimani (cuidado com a altitude, tem que ter pique e um pouco de experiência), visitar o Vale de la Luna (Vale da Lua), as ruínas arqueológicas de Tiwanaku, descer a Estrada da Morte de bike, conhecer a cidade, o Mercado das Bruxas.
Onde ficar em La Paz:
http://www.hostelworld.com/search?search_keywords=La+Paz%2C+Bolivia&country=Bolivia&city=La-Paz
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