"Não quero tua esplêndida gaiola, pois nenhuma riqueza me consola de haver perdido aquilo que perdi. Prefiro o ninho humilde, construído de folhas secas entre os galhos das árvores amigas. (...)"

(O pássaro cativo, Olavo Bilac)







quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Furnas: rapel nas águas do Mar de Minas.

"A represa de Furnas está localizada no curso médio do Rio Grande, entre São José da Barra e São João Batista do Glória, em Minas Gerais. A construção da hidrelétrica começou em 1958 no governo de JK, e sua construção permitiu que se evitasse o colapso energético do país na década de 60. Faz parte das obras do plano de governo de Juscelino, “50 anos em 5”, bem como a construção de Brasília. O reservatório banha 34 municípios de Minas Gerais, e a inundação de áreas férteis trouxe prejuízos para os agricultores locais, mas possibilitou, além do desenvolvimento da região com a nova usina, o aumento da renda do município relacionada ao turismo, visto que a inundação formou novas e belas paisagens, como os cânions da cidade de Capitólio. O lago é formado por dois braços de rio, um que deságua no Rio Grande e outro proveniente da junção dos rios Verde, Sapucaí e Machado. É a maior extensão de água do estado, e por isso é chamado de “Mar de Minas”, cujas praias artificiais e cânions o transformam numa grande atração turística. " (adaptado da internet)

 
No feriado do dia 07 de Setembro, combinei com a galera mineira que fez o mochilão em Julho comigo de conhecer Furnas, ficarmos num camping e fazermos rapel por lá. Um deles tem uma agência de viagens (Curupira Turismo) e sempre faz umas trips pra fazer ecoturismo, aí me juntei à excursão dos “Nômades do Cerrado” (é assim que eles se chamam porque viajam sempre, têm até camiseta, sô!). Combinei com mais três amigos, dividimos a gasolina e encontramos o pessoal lá.

Primeiro dia (sexta feira, 07 de setembro):
Saímos pela manhã, e chegamos lá de tardezinha depois de umas oito horas de viagem, pois fizemos várias paradas. O sol na estrada estava escaldante, então foi realmente cansativo. Chegamos, montamos a barraca, e o pessoal que tinha chegado na quinta a noite estava voltando de um rapel numa das cachoeiras, o lugar é realmente muito lindo. A noite um churrasco, uma roda e um lual sobre as estrelas , tocando um som  num violão (os mineiros tocam muuuuito). A lua estava linda, com o típico céu brilhante de Minas que NÃO EXISTE em São Paulo.



         
                         Adoradores da lua:



Segundo dia (Sábado, 08 de Setembro):
No município de Capitólio (ao qual a hidrlétrica pertence) existem lindíssimas piscinas naturais, de água verdinha e transparente, e saímos depois do café pra fazer uma trilha por elas. Levamos coisas pra comer e passamos o dia curtindo a natureza, parando pelos locais, nadando, etc. A maioria das trilhas tinha que passar por dentro das piscinas naturais andando ou a nado pela água geladassa, mas como o dia estava quente, foi uma delícia!
O momento que eu quase morri afogada: Numa das piscinas naturais que paramos, resolvemos tirar umas fotos embaixo da água. Eu não nado bem, apenas “me viro”, aí atravessei o laguinho a nado e perguntei se onde eles estavam dava pé. Mas quando tentei colocar o pé no chão, nao dava, tinha um buracão bem embaixo de mim! Comecei a afundar, olhei pra cima e vi a claridade do dia sumindo, sumindo na superfície, me debati na tentativa de subir, mas nada, continuei afundando. Aquela história de ter calma e esperar que o corpo flutua NÃO funciona no momento do desespero, e agora eu entendo porque. Sabe aquela história de ver sua vida passando em segundos na sua frente? Eu realmente vi isso, vi cenas da minha infância que não tinha mais nenhuma lembrança. Vi uma cena de quando eu devia ter uns dois anos de idade e estava num rodeio com meu pai e os touros se soltaram e as pessoas começaram a correr e meu pai começou a correr também comigo no ombro e meu irmão no braço. Me vi na escola no meu primeiro dia de aula, vi as tias da creche me fazendo comer umas verduras e eu chorando porque nao queria, revi coisas que vivi quando era casada (hilário rs), cenas muuuuito antigas mesmo, mas que ficam marcadas no subconsciente, apesar da gente não se lembrar. Quando voltei liguei pro meu pai e perguntei dessa cena do rodeio, e ele disse que isso aconteceu. Realmente surreal. Mas aí alguém me puxou pra cima e ficou tudo bem. Ufa! Tirei a foto embaixo da água e saí rapidinho com medo de cair no buraco de novo rs.


                             Como diz a Vanessa, o quarteto fodástico! Amigos do coração:



                                               O laguinho onde eu quase morri afogada:

A foto que quase causou a minha morte (e nem ficou tão legal assim):




                               Galera zica das montanhas de Minas. Tudo gente booooooooa, sô!






A hidrelétrica de Furnas:

Descendo um pouco, o camping tinha uma vista legal da represa:


A noite, uma macarronada deliciosa (valeu, Dani!!) e outro lual, e quase fomos expulsos do camping por causa do barulho. A segurança veio dizer que ou parávamos ou era pra nos retirarmos rs. Aí procuramos um lugar bem afastado pra continuar, tudo escuro, ligamos as lanternas e continuamos a cantar. Baixo astral aqui? Impossível!

Tati, a draga (tô repetindo, e daí?)! Todo mundo me zoa dizendo que eu sou magra de ruim porque como muito, mas em viagens eu realmente sinto MUITA fome. Em casa eu nem ligo muito pra comida (é, eu cozinho mal rs).


Momentos felizes antes da ameaça de expulsão:



                                                           O silêncio fotografado:

Terceiro dia (Domingo, 09 de Setembro)
O dia do rapel: fomos até uma fenda que tinha numa rocha com uma altura de uns 70 metros. Aí depois de descer alguns metros, as rochas acabavam e a descida era livre, e aparecia a vista magnífica da represa de Furnas, com uma cachoeira LINDA no fundo (a cachoeira que o pessoal fez rapel na sexta, mas não fiz pq chegamos muito tarde). Eu nunca tinha feito rapel, e confesso que na hora que botei as pernas no paredão rochoso pra começar a descer pensei em desistir, com medo de não saber soltar a corda aos poucos e cair de uma vez. Depois que peguei o jeito de ir folgando aos poucos e ir escorregando, foi tranqüilo. Pretendo fazer rapel outras vezes, numa cachoeira da próxima. Voltamos pro camping de barco, pq o lugar só tinha acesso pra entrar e sair pela represa, já que entramos por cima descendo os cânions pelas cordas .
Chegando no camping, foi desmontar a barraca, refazer a mochila e voltar Pra Sp. Buááááá. Deprê pós viagem, fazer o quê?


Descer de rapel com uma vista dessas não tem preço!








A vista dos cânions: LINDO demais!


Vanessa trollando minha foto:



Como não amar Minas Gerais?


Lindo como ele só:

Uma foto do rapel que eu não fiz na sexta, pq cheguei tarde (só pra ficar na vontade):




Onde ficar:
Campings:

O que fazer:
Pescar, fazer rapel, wake surf, andar de barco, nadar nas águas azuis da represa, se deliciar com a culinária mineira, passear de lancha (nos clubes náuticos é possível alugar uma), andar de jeep, se hospedar em algum clube, etc.

Quer saber qual a próxima aventura da Curupira Turismo?
Entre em contato: http://www.curupiraturismo.com/

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

São Thomé das Letras II: O Mundo Imaginário ficou na imaginação

Festival O Mundo Imaginário


Estou sem palavras para detalhar o que foi esse festival. Mas mesmo sem palavras, o jeito é buscar do fundo da indignação e poder ao menos me pronunciar a respeito do ocorrido.
Quando alguém diz que “a propaganda é a alma do negócio” ela provavelmente sabe do que está falando. Porque realmente É! A propaganda desse festival foi marcante pelas redes sociais, era impossível não ficar com vontade de ir. Covers de artistas fodásticos como The Doors, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Dj´s e Reggae, inclusive com artistas da própria cidade, como Ventania e Força da Paz. Fotos incríveis compartilhadas todos os dias. Três palcos de 500m pra rock, reggae e música eletrônica, certamente na intenção de atingir todas as tribos, e claro, mais gente.
Me juntei a uma excursão que saiu de Sp e fui. Chegando na cidade já começou a palhaçada: vários ônibus parados porque alguém disse que não dava pra passar pois estava atolando, ou deslizando, ou sei lá o quê. Para ir era preciso pegar um dos ônibus da cidade, e pagar a quantia módica de R$10,00, que subiu pra R$15,00 e depois pra R$25,00. Se não passava ônibus, porque só o ônibus da cidade passava? Cheiro de armação. Galera do ônibus convenceu nosso motorista a ir, e ele foi. Claro que não houve problema. Alguns moradores da cidade aproveitaram o momento pra extorquir dinheiro dos desinformados. O trânsito perto do local estava grande, pessoas, carros, motos, vans, peruas, e demoramos pra chegar.
O kilo de alimento que anunciaram no site e no convite nem foi cobrado, e quando alguém dizia que havia trazido eles apontavam um canto e mandavam deixar ali mesmo. O sol era intenso, tão intenso que me deixou com a marca do óculos e o nariz ardendo num período de apenas uma hora de exposição, que foi enquanto eu montava a barraca. O camping era no meio de um pasto, tentei escolher uma parte onde tinha menos cocô de gado, pois estava cheio de esterco por todos os lados, além de ter uma rede elétrica passando por cima, o que causou queda de raios no meio do camping. Sendo um pasto, inevitável encontrar carrapatos, e foi o que aconteceu. Tirei vários da minha coxa, da minha barriga, do meu braço. Estou coçando até agora.
Depois que montei a barraca, saí pra dar uma olhada, e parecia que eu estava no meio de uma obra inacabada: apenas cinco banheiros químicos e alguns banheiros feitos de tapume, aquela madeira de construção. Além de precários, eram insuficientes para todo mundo, e na primeira noite já estavam sem condições de uso. Perguntei onde era a área de banho, e um cara que aparentemente cuidava da organização me disse que “ainda estão montando”.  Na entrada, uma das organizadoras da excursão que eu estava foi barrada porque levava uma sacolinha com coisas pra comer. Queriam que consumíssemos no restaurante de lá, óbvio. Mas não barraram pessoas entrando com caixas de cerveja, garrafas com bebida alcoolica e coolers térmicos, o que não faz sentido, já que as bebidas também seriam vendidas no local. Fui no restaurante pra tentar comer e só de olhar desisti: um monte de gente comendo em pé, mais um monte de gente sentado em poucas mesinhas, um outro tanto esperando pra comer e apenas um garçom anotando os pedidos. Sorte que eu tinha passado no mercado e levado um monte de coisas de comer na mochila, senão tinha passado fome, pois o restaurante JAMAIS conseguiria servir as 6000 pessoas que estavam no lugar.
As tendas ainda estavam inacabadas, nem de longe se pareciam com o que havia sido anunciado e o único palco mais ou menos pronto que tocou um pouco de música caiu depois de um tempo.
E aí veio o pior: a tempestade. A chuva durou umas duas horas e foi tão forte que inundou tudo, levou um monte de barracas embora e raios caíam no meio do camping, as pessoas saíram correndo, mas NÃO HAVIA ABRIGO. Um carioca morreu atingido por um raio, e mais três pessoas que estavam com ele se feriram. A única ambulância do local levou os feridos para o hospital de Três Corações, e o resto da festa ficou sem socorro caso acontecesse mais alguma coisa. Minha barraca ficou toda alagada, quando entrei minhas coisas nadavam na água, molhou tudo e fiquei sem roupa pra trocar, assim como a maioria das pessoas que estavam ali. A chuva forte fez com que todos ficassem ilhados, não havia como sair do local pois a estrada estava atolando, e a maioria dos ônibus haviam ficado na cidade por causa do tal boato de que “não dava pra passar”. Então nem dava pra voltar. Fomos todos obrigados a passar a noite de maneira precária. Uma das tendas que devia ter som virou um dormitório, a galera dormiu embaixo e mais um monte de gente ficou sentado na grama molhada esperando o dia clarear pra tentar ir embora. Durante a madrugada não havia o que comer, o restaurante fechou e as poucas barracas que serviam comida não tinha mais comida. Consegui comprar um pedaço de pizza no cone por R$10,00, superfaturaram o preço das poucas coisas que tinham.
A aparelhagem de som queimou por conta da chuva, então NÃO TEVE SOM! Se o festival prometia ser algo parecido com Woodstock, conseguiu: assim como em Woodstock, os banheiros não eram suficientes, não havia lugar para banho, não havia estrutura, não havia comida e muita gente entrou sem pagar. A diferença é que em Woodstock TEVE SOM, e as pessoas estavam ali para isso, então o resto seria contornável. Depois da chuva, as únicas pessoas que cuidavam do evento, os seguranças da portaria, simplesmente DESAPARECERAM! A polícia disse que o evento não podia continuar e todos se mandaram sem dar sequer uma satisfação. Não havia ninguém que pudesse orientar, nos mandar ir embora ou fornecer alguma informação. E o local não tinha sinal de celular nenhum para pedir algum socorro caso fosse necessário.
Durante a madrugada, todo mundo molhado e precisando se esquentar, começaram a saquear os bares e caminhões de bebida. Apareceu um cara correndo do nada com uma serra elétrica(!) pra tentar espantar as pessoas que estavam saqueando, e depois saiu correndo no meio da multidão agitando a serra elétrica LIGADA para todos os lados, uma cena de filme de terror.
Para dormir um pouco, joguei a água da barraca pra fora torcendo com as minhas próprias roupas, virei a parte plástica do colchão de ar pra cima pra enxugar e dormi ali mesmo, e em volta tudo ensopado, cheio de água e pingando. Parecia que eu estava no meio de uma enchente.
Pela manhã, abri a porta da barraca e a cena era de um campo de guerra: todo mundo levantando, desmontando as coisas e carregando as tralhas molhadas, um monte de lixo, barracas destruídas, mochilas abandonadas e os sobreviventes se erguendo e arrumando as bagagens pra fugir dali. Alguns DJ´s que estavam presentes, mas não eram do evento, montaram uma gambiarra com o celular e caixas de som e fizeram um som, mas algo totalmente informal. Mas ninguém mais estava no pique de curtir a música.
Todo mundo foi embora pra cidade e estava tudo lotado, não havia mais acomodação. Alguns amigos conseguiram alugar uma casa e passamos a noite lá, tive que comprar roupas pra poder trocar por conta da mochila molhada. Várias pessoas dormiram dentro do ônibus mesmo.
O bom é que brasileiro sempre consegue tirar o bom de tudo. Botaram os carros de som na praça de São Thomé e fizeram a rave ali mesmo durante a noite inteira, fomos curtir um rock num dos bares de lá, visitamos as cachoeiras. Apesar de todo esse perrengue, não vi uma briga sequer, não vi nenhuma notícia de assalto e não vi ninguém se estressar. Mas uma garota perdeu a bolsa E ROUBARAM A ÁRVORE QUE EU HAVIA LEVADO PRA PLANTAR! Fiquei chateada.
Quando voltávamos do festival, havia um carro pendurado numa ponte estreita e o motorista não quis passar com medo de não ter espaço, aí esperamos um tempão o dono aparecer e nada. Pessoal pegou o violão, começou a tocar ali mesmo na rua, passou um carro equipado, abriu o porta malas, ligou o som e a galera se divertiu. Depois se juntaram pra tirar o carro, um cara numa troller tinha uma corda e guinchou o carro enquanto os meninos ajudavam a erguer a traseira pra não cair no rio. Brasileiro é sempre unido, principalmente nas piores situações.
A empresa que fez o evento, se é que existe uma, pois quem estava organizando deixou claro que nunca havia feito algo do tipo, deveria no mínimo ressarcir o dinheiro, pois não foi um festival barato, e mesmo que a chuva não tivesse caído, não haveria muita coisa: nem comida, nem chuveiros, banheiros insuficientes, nem as três tendas prometidas, nem as feirinhas de artesanato, nem as oficinas de cultura, nem o som, pois os artistas NÃO FORAM! E eles lucraram cerca de R$700.000,00 com a venda de ingressos, tiraram o site do ar e simplesmente foram embora quando a polícia apareceu e disse que não havia estrutura pra suportar a quantidade de gente e mandou parar o “festival”. Segundo o portal G1 o evento não tinha alvará de funcionamento, mesmo o lugar tendo sido trocado por proibição do IBAMA.

A estrutura era essa aí que vcs tão vendo: As casinhas rosa são os banheiros, as azuis vendiam uns lanchinhos e espetinhos superfaturados, a tenda branca serviu de dormitório depois que a chuva destruiu tudo. E tinha mais uma tenda que tocou música eletrônica por pouco tempo, até que a chuva queimasse os equipamentos de som (eles deviam ter técnicos e estar preparados pra casos como esse)

A tenda que virou dormitório dos desabrigados (já não tinha música mesmo)



Levantando acampamento pela manhã pra ir embora, pq nao tinha condições de ficar ali (e sem som, que era o objetivo, muito menos).

Antes de ir embora, em meio ao "campo de guerra", com a árvore que eu levei pra plantar e que foi roubada. Eu estava em dívida com São Thomé, pois havia visitado a cidade em Maio e nao plantei nada (o meu projeto Sementes na Mochila ainda nao estava em execução), e não consegui plantar de novo porque sumiram com a minha árvore num momento de descuido.


O saque às bebidas e "o massacre da serra elétrica":






A festa rolou na praça da cidade mesmo. Brasileiro sempre sabe tirar o bom de tudo!


O jeito é curtir a cidade que nao deixa a desejar, mesmo com a superlotação.

Nariz vermelho por causa do sol que estava quando montei a barraca antes da chuva:


Quando todos estavam indo embora, ainda fizeram um som totalmente improvisado. Observe a estrutura da segunda tenda, a única que funcionou, e por pouco tempo. Isso tem capacidade pra quantas pessoas? E em volta parecia um lixão, o lugar nao tinha uma lata de lixo sequer!


Um vídeo do site de notícias G1 falando sobre o evento e do suposto raio que caiu no camping e matou um rapaz do RJ. Pode nao ter sido esse, porque caiu muitos!

Durante a organização da festa, as coisas já estavam saindo erradas. Foto postada na página do facebook que estava fazendo a divulgação. Tiraram essa página do ar também!:


E tiraram o site do ar. Espertinhos!



Quando a realidade bateu à porta, o fantástico mundo prometido ficou só na imaginação, e virou mais uma história pra contar. Essa foto do Alex demonstra toda a indignação de quem criou expectativas e saiu frustrado e sentindo-se enganado:



Se você também foi e está se sentindo lesado, assine a petição pública:

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Peru: Macchu Picchu e a descoberta da cidade perdida

Puno e as Islas de los Uros

Os trâmites na fronteira com o Peru foram rápidos até. Depois de uma fila, perguntaram quantos dias ficaríamos no Peru, pediram a cópia dos papéis da polícia federal com a saída do Brasil (tiramos as cópias em frente a aduana mesmo). Não tem fiscalização fora, só lá dentro da aduana, então é muito fácil entrar ou sair do país sem o carimbo, mas o risco é a polícia te parar na rua em algum lugar e você estar ilegal no país. Os ônibus da Bolívia não entravam no Peru, então tivemos que trocar de ônibus, e seguimos pra Puno. No ônibus, conheci uma francesa simpaticíssima de 19 anos que estava morando em Lima por um ano para aprender o espanhol e conhecer uma cultura diferente da sua, e estava voltando de um passeio à Bolívia com o pai que a estava visitando.
Em Puno, na própria rodoviária uma van nos levou até a beira do lago pra pegar o barco e ir até as ilhas flutuantes. No barco já foram explicando algumas coisas, como foram construídas as ilhas, como as pessoas lá viviam, etc, etc. Chegamos nas ilhas já bem à tardinha, e sentamos em roda enquanto um habitante local contava a história do lugar.

Denominam-se Uros as ilhas artificiais sobre o Lago Titicaca que são construídas por nativos bolivianos e peruanos. Há indícios da existência dessas ilhas desde a era pré-colombiana, quando um povo desenvolveu essa forma de habitação buscando maior segurança, e saiu da terra para ir morar no meio do lago. As ilhas são construídas com totoras, uma planta herbácea aquática comum nos pântanos da América do Sul, e é necessário constante trabalho de manutenção para manter sua flutuabilidade. Nelas, os residentes caçam, pescam e exploram o turismo com a venda de artesanato. Essas ilhas ficam a cerca de quarenta minutos de barco saindo de Puno, e nelas vivem 1800 pessoas divididas em 70 ilhas. Eles têm escolas, igrejas e até um pequeno e rústico hotel foi construído numa delas, visando o grande fluxo de turistas que buscam coisas "exóticas". (adaptado da internet)

Depois da apresentação e explicação feita por um dos nativos, as cholitas nos convidavam para conhecer a casa delas, e de quebra nos ofereciam lembranças, souvenir e artesanato para comprar. E sim, se você visitou a casa dela, você TEM que comprar algo, é impossível fugir. Elas não largam do seu pé, mas é justificável, pois elas vivem disso, e não cobram nada dos visitantes que vão até lá. Comprei umas coisinhas bem legais. Dentro da casa que eu entrei tinha até TV, e eu perguntei se funcionava. Ela ligou a TV e deu umas risadinhas, mas até pouco tempo atrás não tinha nada disso. Mas atrás das ilhas tem umas casas de lata (metal), e a impressão que eu tive é que eles realmente moram nessas casas de lata, e não nas de palha (isso se moram lá mesmo). A dúvida de muitos é: como eles moram aqui sem água? O Lago Titicaca é feito de água doce, não é salgada.  Num ponto das ilhazinhas artificiais tinha um buraco, e várias redes de pesca estendida. Meio anti higiênico, afinal os banheiros devem ser escoados bem ali também, mas não é um detalhe que me convém. Como vivem sem energia? Eles têm geradores e painéis solares, e até os barquinhos são motorizados e movidos a óleo Diesel. Então pode ser uma coisa bem “pra turista ver”, mas não deixa de valer a pena, afinal, já houve um povo que morou daquela maneira naquelas ilhas sim.



Placa de boas vindas das ilhas: Apu Inti era o deus mais importante para os Incas. Inti, em quíchua (a língua dos antigos Incas) significa sol, e foi ele que fez com que Manco Pacac e Mama Ocillo emergissem das águas do Titicaca para civilizar os homens. Inti foi casado com Pacha Mama, a deusa da terra. Ele cruza os céus todos os dias transmitindo luz e calor, e mergulha no subterrâneo ou subaquático todas as noites. Quando havia eclipses, achavam que Inti havia se escondido por estar zangado com os homens. Costuma ser retratado como um disco solar de faces humanas e raios em volta (imagem ao lado), e essa imagem é encontrada em vários lugares, souvenirs e pinturas por lá.


 Elas são alegres, sorridentes e muito receptivas:














A parte interna de uma das casas:







A área de pesca:









Voltamos e fomos direto para a rodoviária, e jantamos num restaurante lá mesmo. Uma cena hilária: parecia que estávamos num leilão ao contrário, as cholitas brigavam e nos puxavam, cada uma pra um lado, oferecendo preços mais baixos.

Cusco


No dia seguinte de manhã chegamos com dia clareando e no centro de Cusco, procuramos um hostel. Depois de deixar as mochilas fomos tomar café. Tomei um café meio “brunch”, com um monte de coisas: panquecas, ovos, bacon, pão, geléia, queijo, frutas, suco, café ou chocolate. Não tinha visto um café tão farto assim na Bolívia, foi bom pra caramba.  Voltei pra tomar um banho, trocar de roupa e saí pra um city tour por Cusco.
Depois de visitar algumas agências, a análise: ir por conta própria pra Macchu Picchu ou comprar um pacote por alguma agência? Ir por conta própria demandaria alguns detalhes: van, ônibus ou táxi até Ollantaytambo, a passagem do trem de Ollantaytambo até Águas Calientes, uma hospedagem em Águas Calientes, a entrada de Macchu Picchu, e depois tudo isso pra voltar de novo pra Cusco. Os bilhetes de trem são um pouco difíceis de comprar por conta própria, tem que comprar bem antes pela internet pra garantir, e a entrada de MP também, e como não sabíamos a data certa de chegada em Macchu Picchu, ninguém comprou os bilhetes do trem nem a entrada. É possível comprar direto com as agências só os bilhetes do trem e a entrada de MP também, sem comprar o pacote completo, eles fazem qualquer negócio. Às vezes comprar antecipadamente sai até mais caro.
Estar num grupo grande mais uma vez se mostrou vantajoso: fechamos um pacote com uma agência que incluía tudo isso e também as refeições, exceto o bilhete do trem na ida (iríamos na trilha da linha do trem, essa trilha já estava nos planos desde o Brasil), além das passagens de ônibus de volta pra La Paz (que depois se tornou um problema). A van nos pegaria no dia seguinte na porta do hostel. Duzentos dólares, mas não tenho certeza, eu não me lembro dos valores de quase nada mais.
Durante aquele dia dei umas voltas pra conhecer a cidade: fui ao mercado municipal, almocei no Mc Donald´s, visitei as igrejas e fiquei um pouco na Plaza de Armas curtindo o solzinho da tarde. Cusco tem MUITA coisa pra se fazer e para se conhecer, dá pra ficar vários dias na cidade pra conhecer tudo, mas o Peru é muito mais caro que a Bolívia, e isso implicaria em custos, principalmente em época de dólar alto.
Em todos os lugares por onde passei, a todo momento vinha um garoto (até mesmo adultos) se oferecer pra engraxar minha bota. Eu tinha acabado de engraxar e aparecia um se oferecendo, dizendo que estava suja. Acho que eles viam minha bota de cano alto e queriam engraxar pra ganhar mais. Teve um garoto em Cusco que se ofereceu pra engraxar e disse que custaria 5 soles (1 sole =1 real), e eu aceitei. Ele engraxou só um pé e pediu o dinheiro, paguei e ele foi saindo rs. Eu pedi pra ele engraxar o outro também, ele disse que os dois pés eram 10 soles, olha que malandragem rs. Nem paguei mais, deixei ele ir embora e fiquei rindo da situação engraçada, eu com uma bota brilhando e a outra suja de terra.
Cuzco era umas das principais cidades do império Inca, e ainda conserva boa parte dos resquícios dessa antiga civilização. Uma de suas mais importantes contribuições foi certamente no campo da arquitetura. Eles tinham alguma técnica de cortar as pedras e encaixá-las perfeitamente que até hoje ainda é um mistério. É possível observar isso ao compararmos o Muro dos Incas e o "Muro dos Incapazes", aquele feito pelos espanhóis. Quem assistiu o filme Diários de Motocicleta certamente se lembra da cena onde um garotinho de Cusco mostra para Che Guevara o muro inca e o muro espanhol. A diferença entre os dois é gritante. Esse muro fica numa das ruas laterais à Plaza de Armas. Há quem acredite que essas grandiosas obras feitas pela humanidade há milhares de anos, como Macchu Picchu, Chichen Itzá, as pirâmides de Gizé, entre outras, foram construídas com a ajuda de seres extraterrestres. Eudes, um dos mineiros muuuito legais do grupo, é um defensor dessa tese (pra quem quer saber mais, leia "Eram os deuses astronautas?" do escritor suíço Erich von Daniken)
No fim do dia dei uma dormida porque tinha dormido muito mal no ônibus, tomei um banho e depois saí pra curtir uma baladinha. Fomos conhecer o Mama Africa, famoso em Cusco, que tem três andares: no térrreo fica a pista, no segundo um lounge e no último um bar,  e como habitual em lugares turísticos, estava cheio de gringos e gringas. Não me lembro qual era o som lá, mas acho que tocou música eletrônica, pop, rock, esses estilos de música que são universais. Saímos de lá e fomos pra outro lugar no fim da rua, e tinha vários bares, um do lado do outro: outra cena de leilão, os promoters na entrada nos puxavam, cada um pra um lado, nos convidando pra entrar. A maioria dos locais tocava salsa, e os peruano(as) dançam MUITO bem, nível do programa Dança dos Famosos: pulam, rodopiam, jogam pro alto, etc. Fiquei extasiada assistindo eles dançarem, só não filmei porque minha câmera estava sem bateria, eu ia carregar durante a noite pra levar pra Macchu Picchu no dia seguinte. Mas foi um verdadeiro show de salsa, todo mundo olhava e babava, o cara trocava de parceira e não perdia o pique, continuava dançando. Depois fomos pra outro lugar que tocava rock, depois pra um reggae e a galera foi se dividindo, uns foram pra mais outro lugar, uns dormir, etc. Fiquei mais um pouco no reggae, e estava vazio, tinha nós brasileiros e mais alguns gringos. O DJ colocou várias músicas brasileiras pra tocar, tomei umas Cuzqueñas (cerveja peruana) e depois também fui embora dormir. Voltei pelas ruas de Cusco sozinha com a Marcinha, e os meninos nos dando orientações para tomarnos cuidado, pois Cusco é uma cidade perigosa. Andei por vários lugares à noite, e apesar de serem países pobres, em nenhum momento me senti ameaçada. Não que não exista violência em outros lugares, existe, assim como no Brasil, mas acho que no nosso país é pior porque os criminosos já estão acostumados à impunidade. Sabem que dificilmente serão pegos, e quando são, as penas são baixas,  então nós cidadãos honestos e de bem nos tornamos reféns da criminalidade. Triste e revoltante.
Plaza de Armas (quase todas as cidades de colonização espanhola têm uma Plaza de Armas):





Uniforme escolar de uma escola pública: achei uma graça, parece coisa de novela.




Um filhotinho de lhama com a garotinha:




                                O mercado municipal:








O meu guerreiro inca (loiro? Deve ser um europeu convertido rs):



A Pedra dos Doze Lados no muro inca, perfeitamente encaixada entre as outras pedras:


O muro dos Incas e o "muro dos incapazes" (observe a diferença no assentamento e corte das pedras)



Plaza de Armas à noite:


O Mama Africa


No bar legal que tocava um reggae:




Águas  Calientes



No dia seguinte pela manhã, o resultado da noitada de Cusco: a van da agência já estava esperando e ainda tinha gente dormindo. Saímos com um pouco de atraso.
Várias horas de van, e no meio do caminho, parada pra almoçar num restaurante super estilosinho, e mais algumas horas de van até Ollantaytambo, o começo da linha do trem que vai até Águas Calientes. Chegando no início da linha do trem, seguimos pela trilha paralela à linha, mais ou menos umas cinco horas de caminhada, e quando chegamos já tinha anoitecido.
O cara da agência nos levou até o guia, e ele foi levando os grupos (tinha mais duas vans da mesma agência) de hotel em hotel,  nos mostrou o restaurante onde faríamos o jantar e disse a hora que devíamos comparecer. Durante o jantar explicou que devíamos encontrá-lo na porta de MP, ele seria nosso guia. Na porta do quarto do hotel, a surpresa: o quarto que eu dividi com as meninas (sempre ficávamos as três no quarto) era ótimo (na verdade todos eram bons), com ar condicionado, banheiro legal, tudo limpinho, etc, a melhor hospedagem da viagem. Esperávamos por algo mais simples, e depois de horas de trilha pela linha do trem e de subir as ruas cansativas de Águas Calientes, foi bom se surpreender. Depois do jantar, voltei pro hotel, batemos um papo numa varandinha que tinha entre os quartos e fui dar uma volta pela cidadezinha pra conhecer, já passava das onze horas da noite.
Águas Calientes é uma graça de lugar, e fica bem no pé da montanha onde se localiza Macchu Picchu, mas é um lugar muito caro. Eu tinha esquecido meu shampoo no banheiro do hostel em Cusco, e tive que comprar outro. Um shampoo era caríssimo, mais que o dobro do preço normal de um em outro lugar. Sorte que o jantar estava incluso no pacote, e também deram um saquinho com bolachinhas, suquinho, geléia e pão com queijo para o café da manhã, então só gastamos com o almoço no dia seguinte voltando de Macchu Picchu.
Desci até a parte baixa que fica bem na entrada da cidade, onde passa um rio com correnteza,o Rio Urubamba, e ali tinha um pequeno mirante de frente pro rio com uns bancos para sentar, bem no pé da montanha de Macchu Picchu. Deitei num dos bancos, fiquei ouvindo o som do rio correndo ali do lado, olhei pro céu e tive umas das visões mais lindas da minha vida: vi a montanha de Macchu Picchu na minha frente, surgindo por trás dela uma lua cheia muito amarela, grande e redonda, e o céu estava estrelado, mas tão estrelado que quase não havia espaço sobrando entre as estrelas. Foi uma visão que eu nunca vou esquecer, e só de lembrar me arrepia. Nunca vi um céu tão incrível como aquele. Fiquei imaginando como não seria aquele céu visto de lá de cima. Os Incas sabiam o que estavam fazendo quando escolheram aquele lugar pra construir sua cidade mágica. Acendi um cigarro e simplesmente curti tudo aquilo que eu estava vivendo, quase não acreditava que estava ali, e não queria que tudo aquilo acabasse.



O almoço no caminho de Cusco para Águas Calientes (e a clássica sopinha de entrada)


 O restaurante estilosinho:

O Começo da trilha em Ollantaytambo (e o trem passando por nós)







Chegando em Águas Calientes à noite:



Uma volta pela cidade:



O jantar (e mais uma vez a sopinha de entrada):





No dia seguinte saímos do hotel ainda de madrugada em busca do objetivo principal da viagem: a cidade perdida dos Incas.
Para chegar no topo da montanha, há uma escadaria que dura mais de uma hora de subida, e também há uma empresa de ônibus. Não pensei duas vezes: estava cansada de tanta subida e da trilha no dia anterior, comprei  o bilhete de bus só de subida (acho que 10 dólares) e na volta desceria a pé pelas escadas, porque pra descer todo santo ajuda. Fiquei quase uma hora na fila pra pegar o ônibus pra subir, isso porque os ônibus subiam de cinco em cinco minutos. A fila estava realmente grande, virando a rua, e o dia ainda nem tinha clareado.
Quando cheguei no topo da montanha, encontrei o pessoal que subiu pela escadaria na fila pra entrar, tinham chegado quase junto comigo. Suados, pingando e vermelhos, deve ter sido uma caminhada exaustiva e cansativa. Quando desci era tanto degrau que parecia que nunca ia acabar, imagine então subindo.





MACCHU PICCHU.


“Acreditará alguém no que encontrei?” (Hiram Bingham,1911)

A cidade perdida foi descoberta em 1911 por Hiram Bingham, professor da Universidade de Yale, sendo que alguns anos antes um empresário alemão havia “descoberto” a região e instalado uma “empresa” para explorar os tesouros que ali se encontravam, vendendo tudo a colecionadores europeus e norte-americanos. Mesmo desacreditando na história devido às inúmeras lendas existentes sobre “cidades perdidas” pelo mundo, Bingham insistiu em ser guiado ao local pelo filho de uma das famílias de pastores que por ali viviam. Quando lá chegou, a região se mostrava ter sido abandonada há muitos séculos, estava coberta de vegetação e infestada de serpentes. Escavando a região, apesar dos saques anteriores, ainda encontrou diversos artefatos incas, objetos em ouro, vasos, braceletes, brincos, facas e machados.

Macchu Picchu em 1911, quando foi descoberta:


Macchu Picchu está situada no alto de uma montanha e cercada de várias outras, todas circundadas pelo Rio Urubamba (o rio que eu escutei o som enquanto olhava para as estrelas no dia anterior). Nas imediações há também outras importantes ruínas, por onde passa a famosa Trilha Inca. Para fazer essa trilha é necessário um agendamento prévio de três meses pela internet, pois é muito concorrido, e a trilha demora alguns dias. Os trilheiros que a fazem acampam no percurso, e passam por todas essas ruínas, terminando em Macchu Picchu. Atrás da cidade há uma grande montanha, o Huayna Picchu, de onde se tem uma vista de toda a região e das ruínas. Para subir também é preciso prévio agendamento, pois há um limite de pessoas, duzentas pela manhã e duzentas à tarde.
Há diversas teorias sobra a função de Macchu Picchu, e a mais aceita afirma que foi um assentamento construído com o objetivo de supervisionar a economia das regiões conquistadas e com o propósito secreto de refugiar o soberano Inca e seu séquito mais próximo, em caso de ataques. A cidade possui duas grandes áreas: a agrícola, formada por terraços e recintos de armazenagem de alimentos, e a urbana, na qual se destaca a zona sagrada com templos, praças e mausoléus reais. A cidade possui cerca de 172 edifícios e abrigava cerca de 500 pessoas.


Mapa das imediações de MP:



De acordo com as lendas Incas, o deus sol, Inti (o nome dele está na placa de boas vindas da Isla de los Uros) criou um casal e pediu que os dois fossem até a terra para construir um grande império e civilizar os povos. Então o casal, Manco Capac e Mama Ocillo emergiram das espumas do lago Titicaca, e o povo passou a segui-los como deuses, que realmente eram. O casal de deuses escolheu o local onde hoje é Cusco para fixar a capital do império, também conhecida como "umbigo do mundo", e ensinou o povo que os seguiu a plantar, a colher, construir casas, enfim, civilizaram o povo, que antes viviam como animais selvagens.
Não há um consenso entre os historiadores sobre a origem do povo Inca. A hipótese mais provável é que eles teriam migrado para a região próxima a Cuzco e do Vale do Rio Urubamba próximo do ano 1200, e muitos estudos provam que a civilização inca desenvolveu-se a partir daí, espalhando-se por algumas regiões da América do Sul. A máxima extensão do império incluiu terras onde hoje se localizam o Chile, Bolívia, Peru e Equador. Como uma sociedade essencialmente agrícola, os incas desenvolveram um modo de plantio em degraus, aproveitando ao máximo o relevo acidentado das montanhas para a irrigação.Acreditavam nas forças do bem e do mal, e ao longo do tempo construíram diversos templos dedicados ao Deus Sol. Macchu Picchu, que significa Montanha da Lua, foi construída no alto de uma montanha, e as pedras utilizadas em sua construção foram levadas para lá lentamente, num processo que durou cerca de 100 anos para terminar.Eles tinham uma técnica para cortar as pedras e fazê-las com que se encaixassem perfeitamente, técnica esta até hoje desconhecida. Muitos de seus templos e construções foram destruídos pelos espanhóis a partir de 1533, pois os inúmeros guerreiros da civilização inca não foram suficientes para deter o avanço dos invasores, pois o império já se encontrava enfraquecido por conflitos internos.


Mapa do território aproximado do Império Inca:




A fila para entrar:





Depois de passar pela entrada, segui por um corredor alto, e no final do corredor me deparei com a visão da cidade. Faltam palavras pra dizer o que senti quando cheguei ali. Senti o corpo inteiro arrepiado, uma emoção muito grande e a sensação de que finalmente estava realizando um sonho, e de que tinha chegado ao meu objetivo.
O guia nos acompanhou por alguns momentos e foi explicando bastante coisa sobre a cidade, o sistema hidráulico, a construção das casas, das ruas, a parte que era dedicada aos aposentos reais e como tudo ali provavelmente funcionava no auge do império. Mas eu não consegui prestar atenção em quase nada do que ele dizia e nem me esforcei pra entender. Do lado dele tinha outro guia falando inglês, ouvi um pouco e depois só fiquei olhando, extasiada, e admirando tudo aquilo. Quase não tirei muitas fotos e a bateria da minha máquina acabou (eu gastei a bateria na trilha e a noite em Águas Calientes, e fiz o favor de esquecer de colocar pra carregar), então fiquei curtindo, sentindo os cheiros, os sons e tropeçando nas pessoas, porque conforme a hora foi passando foi chegando gente, e mais gente. Quando cheguei, era bem cedinho ainda, o sol não havia surgido, e eu pude assistir o sol nascer por trás das montanhas, e depois que ele apareceu, brilhou durante o dia inteiro. A arquitetura já foi planejada propositalmente, e as ruas principais são todas viradas para a linha do sol, a fim de receber o Deus Sol durante todo o dia. Em quase todas as fotos que eu tirei, havia um raio de sol brilhando em mim, uma coisa muito mágica que eu nunca vou esquecer.
Depois que os guias terminam a visita monitorada, a visitação é livre, exceto em algumas partes que tem um cordão para bloquear a circulação de pessoas. Por um tempão dei várias voltas, entrei nas casas, olhei pelas janelas, passei a mão nas paredes pra sentir e ter certeza de que eu realmente estava ali, e mais tarde subimos para a parte agrícola, que também tem uma vista legal das ruínas. Sentamos e ficamos lá batendo papo, deitados na grama e curtindo a vista. Marcinha jogou capoeira com o Faguinho, e apareceu um argentino que também jogava e jogou com ela enquanto a gente cantava. Pena que não tinha um berimbal rs.

A entrada é pelo lado agrícola da cidade: observe os degraus para aproveitar melhor a irrigação:


 Bem cedo, antes do sol surgir:



E Inti finalmente apareceu para abençoar nossa visita!



  Essa foto abaixo me lembra um dos livros do personagem Tintim, onde ele e o capitão Haddock são aprisionados por guerreiros do império inca e se dirigem ao sol durante um eclipse para que os incas os libertem.






O observatório solar:





Os aposentos reais:



Os degraus da parte agrícola, a fim de aproveitarem melhor a irrigação devido à região montanhosa:






O Templo das Três Janelas:


Eu e os mineiros sugando energia da rocha sagrada (arrepiante):



Como disse um amigo meu: "Puta foto foda!" No canto, uma foto do Che Guevara também em Macchu Picchu, quando ele terminou sua viagem de moto pela América do Sul:



Marcinha jogando capoeira com o Faguinho:




E as pessoas mais que especiais que eu conheci nessa viagem. Sem elas essas férias NUNCA teriam sido tão boas:




Indo embora  :(

O trem de volta saía às três da tarde, então depois do meio dia fui embora, porque a descida é demorada. Eu queria ainda tomar um banho no hotel de Águas Calientes, porque quando chegássemos em Cuzco só pegaríamos as mochilas no hostel e nos mandaríamos pra La Paz no bus que estava incluso no pacote. Isso foi o que pensamos que aconteceria, pois tinha sido o combinado. Cheguei no hotel e tomei um banho correndo, e depois saí correndo em direção à estação de trem pra não perder o trem, pois era o último do dia. A galera foi chegando aos poucos na estação, e a Marcinha não aparecia, eu tinha saído e ela ficou tomando banho. Comecei a ficar preocupada, mas depois de um tempo ela apareceu já no trem.

O trem voltando pra Ollantaytambo. Chiquérrimo, sô!
Em Cuzco, deu um rolo: o cara da agência de viagens não tinha comprado nossas passagens de ônibus, deu uma desculpa esfarrapada que estava havendo uma manifestação de professores numa das estradas e que as mesmas estavam fechadas. Mas isso não procedia, porque passaríamos por essa estrada de madrugada, e não existe manifestação de madrugada. Já tínhamos feito o check out no hostel, e não havia mais vagas em nenhum hostel que procuramos. Falei um monte pro cara, chamei ele de moleque, de irresponsável, e disse que ele pagaria nossa hospedagem e nossas refeições até que fôssemos embora (claro que ele não pagou nada). Os meninos chamaram a polícia turística, apareceu uma viatura, e os policiais disseram que iam procurar um hostel pra gente se hospedar até que o cara da agência conseguisse nossas passagens de volta pra La Paz. O grupo teve que se separar, porque não havia vagas para todos no mesmo hostel, e ficou um pouquinho em cada canto. No dia seguinte ficamos de bobeira em Cuzco dando mais umas voltas pela cidade e o cara não abriu a agência. Ele só apareceu à tarde, e os meninos deram mais uma pressionada no cara pra que ele conseguisse nossas passagens. Eu nem quis olhar pra cara do fdp, porque eu ODEIO gente que se acha espertinha, e se eu olhasse pra ele eu ia falar um monte de novo. Engraçado que antes de irmos pra Macchu Picchu, na hora de pagar o pacote, eu disse que só pagaria a metade, e a outra metade quando voltasse, e ele disse que o pacote só seria fechado se fosse pago antecipadamente. Eu já estava sentindo cheiro de enrolação. Pelo menos essa foi a única coisa que deu errada, porque o resto do pacote não deixou a desejar.
Sei que à noite ele arrumou um ônibus pra nos levar pra Puno, e disse que em Puno haveriam passagens pra gente pra La Paz com uma empresa de ônibus. Mesmo achando que ele estava querendo nos despachar pra se livrar, embarcamos no ônibus e fomos, se essas passagens não existissem teríamos que comprar outras. Em Puno outra dificuldade pra conseguir as passagens, e eu já tinha me conformado em ter que comprar as passagens de novo, que nem fiquei muito perto nem prestei atenção em nada. Apareceu um ônibus caindo aos pedaços pra nos levar pra Copacabana, trocamos de bus na fronteira e em Copacabana trocamos de ônibus mais uma vez. Finalmente deu tudo certo, apesar de tantas trocas de ônibus, conseguimos chegar em La Paz. Na fronteira, na hora de pegar os carimbos, alguém havia perdido o RG, e outro havia perdido o papel com o carimbo de entrada no Peru, e não passaram na imigração, ficaram nos esperando lá fora e entraram na Bolívia sem problemas.
Chegamos em La Paz no dia 20 de Julho, num Domingo. Eu voltaria a trabalhar na segunda feira, dia 21, mas obviamente não daria tempo de chegar no Brasil. As passagens aéreas estavam muito caras de La Paz pra SP, e meu dinheiro já tinha acabado. Eu só conseguiria sacar mais dinheiro quando passasse pela fronteira, porque meu cartão não era internacional. E só tinha 25 dólares pra conseguir chegar no Brasil (!!).
Me separei da galera mineira na rodoviária mesmo, eles foram procurar um hostel pois alguns iriam pro Salar De Uyuni e outros ainda veriam o que iriam fazer. A partir dali achei que estaria sozinha pela primeira vez. Troquei meus 25 dólares por bol´s e consegui uns 180 bolivianos. A passagem pra La Paz custou uns 90 bol´s, e guardei o resto pra comer e comprar a passagem de Santa Cruz pra fronteira, e eu ainda tinha umas bolachas, sucos e salgadinhos guardados, dava pra me virar até chegar no Brasil. No ônibus encontrei alguns brasileiros que moram em Santa Cruz de La Sierra, tínhamos encontrado eles em alguns lugares durante o mochilão, e por coincidência eles estavam voltando no mesmo ônibus que eu.
Quando chegamos em Santa Cruz na manhã de segunda feira, fui direto comprar a passagem pra Puerto Quijarro. O cara me disse que custava 150 bol´s, e eu só tinha 80. Pensei: “F..., vou ter que pedir carona”. Abri a carteira e expliquei pra ele que estava voltando e não tinha mais dinheiro. Ele me vendeu a passagem por 80 bol´s mesmo e estava tudo certo. Ufa!!
Mas como o bus só sairia à noite, eu tinha um dia livre ainda, e os brasucas que voltaram comigo me convidaram pra almoçar na casa deles. Eles moram em Santa Cruz porque fazem faculdade de medicina lá, e moram num condomínio fechado lindíssimo, onde só havia mansões e carros importados na garagem. Foi lá que percebi o abismo social que existe na Bolívia, apesar de ter visto muita pobreza, há também uma elite, como em qualquer lugar do mundo. Almocei, tomei um banho (lembrando que a última vez que tinha tomado um banho fora em Cuzco, no dia que tivemos que ficar a mais na cidade) batemos um papo, os meninos fizeram um som no violão e me senti de novo no Brasil. À tardinha chamaram um táxi pra me levar até a rodoviária, pagaram meu táxi, e ainda me deram uma graninha pra alguma emergência.

A melhor parte de qualquer viagem que eu fiz, além da experiência, do conhecimento e da troca cultural são as amizades que a gente faz, e isso é muito legal. Mesmo achando que eu faria esse mochilão sozinha, em nenhum momento eu estive sozinha. Descobri que num mochilão você NUNCA fica só, a menos que queira. A América do Sul é lotada de mochileiros brasileiros e gringos também, especialmente em época de alta temporada, em Julho e Dezembro. No caminho pra Puerto Quijarro, conheci mais brasileiros: um casal de irmãos que também morava em Santa Cruz pra estudar, a garota fazia medicina e o garoto engenharia, e estavam indo para o Brasil passar uns dias na casa dos pais por conta das férias. As minhas já tinham acabado, a deles não. Chorei rs.
É muito comum brasileiros irem morar em Santa Cruz pra estudar, pois a moeda brasileira é valorizada em relação à moeda boliviana, e pelo que conversei a soma dos custos com moradia, mensalidade da faculdade e subsistência é ainda menor do que a mensalidade de uma faculdade de Medicina ou Engenharia no Brasil, então financeiramente vale a pena. Quando chegamos na fronteira, fomos a pé até o lado brasileiro e pegamos um táxi. Parei num banco, saquei, dividimos o táxi e comprei a passagem direto pra SP. Mais uma vez, tive que esperar até a tardinha, o ônibus da manhã já estava cheio, e enquanto esperava mais brasileiros: dois paulistas que também tínhamos trombado várias vezes em Copacabana e em Cuzco também estavam voltando e foram no mesmo bus que eu até SP.

Minha mãe me deu uma série de recomendações quando saí da casa dela em Anastasio: que eu prestasse atenção na mochila menor que vai comigo no ônibus quando eu estivesse voltando e nao me desgrudasse dela um minuto sequer, pois Bolívia-SP via Corumbá é rota de tráfico de drogas, e é frequente maus elementos introduzirem drogas nas suas coisas a fim de despitar caso a polícia pare o ônibus na estrada e faça uma revista. Na rodoviária ainda em Corumbá a Polícia Federal chegou e colocou os cachorros treinados para cheirar todos, a fim de procurar por drogas, e levou um rapaz preso. Sempre bom tomar cuidado.
Depois de 24h de viagem de Corumbá a SP e quase vinte dias fora, finalmente estava em casa.

Na casa dos brasucas estudantes de medicina que moram em Santa Cruz: o rango tava bom!



Em Santa Cruz, esperando o ônibus pra fronteira: cheia de tralhas, cansada, queimada, sem dinheiro, mas FELIZ! Nada que eu já tenha feito na minha vida valeu tanto a pena como esse mochilão. Que venha o próximo!








Como chegar no Peru:


Linhas Aéreas:
Peruvian Airlines – http://www.peruvianairlines.com/
Lan Peru  http://www.lan.com/

Ônibus:
Não há ônibus direto do Brasil. É necessário ir até Corumbá, atravessar a fronteira e chegar em Santa Cruz de la Sierra via ônibus ou Trem da Morte, e de Santa Cruz de la Sierra ir até La Paz. Em La Paz, há diversas linhas até Cuzco, no Peru.

Onde ficar em Cusco:

Bright Hostel: Calle ladrilhos 436 Interior 2.
Pirwa Backpackers Colonial: San Francisco Square 360
Milhouse backpackers e Hotel: Calle Quera, 270
Pariwana Hostel Cusco: Mezon de la Estrella, 136 
Para mais opções ou preços, consulte: http://www.hostelworld.com 

Macchu Picchu: para ir até Macchu Picchu via Cusco, você deverá contratar em Cusco uma van, um ônibus ou um táxi para levá-lo até a província de Ollantaytambo. Em Ollantaytambo, o trem o levará até Águas Calientes, no pé da Montanha Macchu Picchu. Se preferir, pode seguir na trilha paralela à linha do trem por cerca de quatro horas.